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  • Foto do escritorMatheus Mans

Rick Riordan e a eterna síndrome do menino-deus


Perto de meus 14 anos, tive meu amor à primeira vista literário: os livros do americano Rick Riordan. Lançados no Brasil pela Editora Intrínseca, as histórias da saga Percy Jackson e os Olimpianos me atraíram de maneira fatal. Consumia suas histórias velozmente, ávido pelas novas aventuras do menino-deus. Depois disso, quando a série foi concluída com O Último Olimpiano, nem pensei duas vezes e parti para devorar a saga do Heróis do Olimpo, um irmão espiritual de Percy.

Depois disso, porém, resolvi dar um tempo em Rick Riordan. Sabe quando você consome muito algo e, de tanta informação sobre aquele tema, acaba por ficar enjoado? Foi mais ou menos isso que aconteceu com seus livros, ainda que eu tenha continuado a divulgar como gostava de seu método de escrita e de suas histórias. No entanto, nos últimos meses, após todo esse intervalo, resolvi me render de novo e voltar ao americano. Desta vez, porém, o resultado seria bem diferente.

Ao invés das histórias envolvendo Percy Jackson, direta ou indiretamente, resolvi dar uma chance para As Crônicas de Kane, As Provações de Apolo e Magnus Chase e os deuses de Asgard. O primeiro envolve mitologia egípcia; o segundo é dentro do mundo de Percy, mas acompanhando o deus Apolo; e o último, como o próprio nome já diz, fala de mitologia nórdica. Cada um do seu jeito e com seus personagens específicos, mas ligados em um mesmo universo divino.

E o fato, depois de ter lido isso tudo, é que percebi como Rick Riordan foi, justamente, um amor à primeira vista. Os seus livros são aquelas paixões rápidas e fugazes da juventude e que são melhores, de fato, apenas no passado. Afinal, saí levemente decepcionado deste exercício de reencontro. Apesar da escrita de Riordan manter o mesmo vigor e a mesma beleza criativa de antes, suas histórias e personagens continuam sendo, basicamente, os mesmos de anos atrás.

Seja em Kane, em Provações de Apolo ou Magnus Chase, a fórmula usada por Riordan dá mostras de que está batida. Assim como foi visto em Percy Jackson, o mesmo acontece em todos eles: o herói entra repentinamente no mundo dos deuses, encontra um mundo à beira do colapso e, a partir daí, descobre que é um dos escolhidos para salvar o mundo de uma destruição total -- o único que foge um pouco desta regra, à risca, é Provações de Apolo, e que falo daqui a pouco.

A leitura dos livros de Riordan se torna cansativa para quem já visitou as tramas de Percy Jackson e Os Heróis do Olimpo. No caso das novas séries, eu já sabia, no começo, como a história se desenrolaria dali pra frente e, pior, já sabia exatamente como o livro iria terminar. É uma fórmula de Riordan, parecida com a clássica Jornada do Herói, que não sofre variação alguma. Isso, para quem escreve com a frequência que Riordan escreve, é prejudicial para seus leitores.

Outro ponto que prejudica a leitura é a base de personagens que se repete. Você lembra dos três protagonistas de Percy Jackson? Era o menino-deus heroico, a menina corajosa e cheia de surpresas, e o escape cômico na figura de um sátiro. Esses personagens, com uma ou outra variação, são encontrados em todas outras franquias. A diferença é que eles se adaptam para suas temáticas -- em As Crônicas de Kane, por exemplo, é um Percy Jackson egípcio.

O único desta “nova fornada” que tinha tudo para escapar da tal síndrome do menino-deus é Provações de Apolo, que acompanha a jornada do deus grego na Terra para tentar se provar digno de ser uma divindade. No entanto, Riordan faz alguns malabarismos narrativos e Apolo, do nada, se transforma num menino rebelde que muito tem a ver com Percy. E logo a trama deste livro, que deveria ser a mais original de todas, acaba caindo na mesmice e se torna cansativa.

Com isso, confesso, acabei me decepcionando com essa revisita de Rick Riordan. Isso, é claro, não tira os méritos de Percy Jackson e de Heróis do Olimpo, que amplia o universo dos deuses gregos. No entanto, o escritor norte-americano precisa sair -- e logo -- desta síndrome do menino-deus que está vivendo. Precisa reacender a paixão de seus leitores. E nem precisa sair desse universo que criou! Só precisa encontrar novas e criativas histórias.

Precisa ser, novamente, aquele escritor que encantou o mundo ao contar uma história muito original. É disso que todos precisamos.

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