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  • Foto do escritorMatheus Mans

Tribalistas não consegue resgatar vigor de outras épocas


Foi com estardalhaço que Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes anunciaram o retorno dos Tribalistas, grupo formado pelo trio de artistas e que fez grande sucesso nos anos 2000 com Velha Infância e Já Sei Namorar. Cercada de saudosismo e expectativa, a volta do trio, no entanto, ficou aquém: faltou criatividade e ousadia nas parcas dez músicas do álbum, que permaneceram na mesmice e não conseguiram surpreender grande parte de seus fãs.

Ao ouvir o álbum Tribalistas e ver as campanhas de lançamento, não resta dúvida: o trio de músicos apostou nas canções Aliança e Diáspora como carros-chefe. Enquanto a primeira tem um ar mais pop e promete ser uma nova Velha Infância, a segunda tem um pé na contestação e crítica social -- no caso, em referência aos refugiados na Síria que fogem em barcos. Ambas com melodias parecidas e rimas fáceis, que servem para ficar na cabeça do ouvinte como qualquer música-chiclete.

No entanto, apesar de Aliança ser bonitinha e Diáspora ter um forte significado, nenhuma das duas se iguala ao que foi ouvido no álbum de 2002. Posso estar muito enganado, mas nenhuma tem força para atravessar anos como Velha Infância ou Já Sei Namorar fizeram. Diáspora, além disso, não tem nada a ver com o restante do álbum. Faltou coerência. E pior ainda: foi lançada junto com a sensacional As Caravanas, de Chico Buarque, que trata do mesmo tema.

Outra que fica fora de tom é a infantil Os Peixinhos, interpretada pela portuguesa Carminho. Nada a ver com nada, a música deveria ser parte de um disco com repertório para crianças. Não faz sentido uma canção infantil dividir espaço com uma música sobre o sofrimento de refugiados sírios. O mesmo vale para Fora da Memória, que tem boa melodia e letra, mas que parece ter mais afinidade com a obra de Arnaldo Antunes e não com o álbum do trio de músicos.

Um outro problema recorrente é o uso de rimas óbvias e sem muita inventividade. Um Só, por exemplo, insiste em rimar comunistas, capitalistas e anarquistas -- coisa que poderia surgir dos rascunhos de qualquer um aspirante a compositor. Além disso, é uma música que parece vender uma união um pouco artificial para o atual momento. O mesmo vale para a razoável Ânima, que tem uma boa letra, mas que conta com uma melodia que dá sono ao longo de sua execução. Chega a irritar.

O que salva o álbum, então, são quatro músicas pouco comentadas: Tribalivre, Baião do Mundo, Feliz e Saudável e Lutar e Vencer. A primeira é uma espécie de rock com uma certa essência africana. É boa e diverte após uma sequência de músicas fracas e que lembra canções de Arnaldo Antunes na época dos Titãs. Lutar e Vencer, apesar de ter o excesso de lirismo de Marisa Monte, também lembra um pouco o trabalho de Arnaldo durante a sua passagem pela banda de rock.

Feliz e Saudável e Baião do Mundo contam com uma leveza que ajuda a incrementar o disco e a fazer com que fãs de longa data sintam alguma proximidade com o trabalho de 2002. E enquanto muitos afirmam que Aliança é a nova Velha Infância, não penso duas vezes antes de dizer: Feliz e Saudável tem muito mais cara deste clássico do trio, ainda que não conte com o mesmo tom radiofônico. Tem potencial de ser queridinha de muitos e virar legenda de foto no Instagram.

No final, porém, fica a decepção. Das dez músicas, apenas quatro são boas -- sendo que algumas até mesmo chegam a irritar. Parece que falou mais cuidado para Arnaldo, Marisa e Carlinhos na hora de selecionar as músicas. Pelo talento individual de cada um, há material mais interessante a ser aproveitado. A única vontade, no final, é ouvir discos individuais de cada um dos integrantes. Separado, o trio mais conhecido e nostálgico do Brasil fica bem mais talentoso.

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