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  • Foto do escritorAmilton Pinheiro

Lanterna Mágica, festival internacional de animação de Goiânia, começa hoje a sua 6ª edição


Camila Nunes, idealizadora e diretora do Lanterna Mágica (Crédito: Mayara Varalho)

Quando O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, concorreu ao Oscar na categoria de animação de longas em 2016 (e não levou), todos os profissionais brasileiros envolvidos na área comemoraram bastante. Era não somente um reconhecimento como também uma espetacular vitrine de exposição que ajudaria o setor a desenvolver mais projetos de animação, sejam longas e/ou curtas, o que aconteceu, como veremos adiante e a alavancar o número de festivais de animação, o que não se logrou.


É uma pergunta pertinente a se fazer: “Por que o número de festivais de animação não cresceu ao longo desses quase dez anos que separam a indicação de O Menino e o Mundo ao Oscar?”, ainda mais se considerarmos que aumentou o número de produções no Brasil.


Segundo, o desenhista, professor e diretor Marão, que dirigiu seu primeiro longa-metragem de animação Bizarros Peixes da Fossa Abissais, que abre hoje, 19, o Lanterna Mágica, como filme convidado, em 2022 tivemos por volta de 15 produções em fase de finalização, sendo que alguns estados produziram sua primeira animação de longas, como o Ceará, Pernambuco, inclusive Goiás, sede do Lanterna Mágica.


Por que a indicação de O Menino e o Mundo ao Oscar não alavancou o número de festivais? Já que o segundo maior festival de animação do mundo, o Anima Mundi, que só perdia para Annecy, na França, em relação a importância e ao tamanho, não conseguiu mais patrocínio para realizar o evento, sendo que o último, em 2019, só foi possível por conta de financiamento coletivo pelas redes sociais. Por outro lado, não tivemos aumento de números de festivais de animação no país, que permaneceu estacionado (veja abaixo levantamento feito pelo diretor e professor Marão).


Com um festival da importância do Anima Mundi, que ajudou a formar muitos profissionais da área e que era uma vitrine para a produção internacional e a brasileira, deixou de existir? Difícil entender, ainda mais se pensarmos que a produção tanto de curtas como principalmente de longas no país cresceu bastante. Quem sabe o número recorde de longas produzidos no país ajude a organização do Anima Mundi a voltar a cena dos festivais de animação.


Lanterna Mágica Robusto


Enquanto uns festivais de animação deixaram de acontecer como, por exemplo, o Anima Mundi, o Animacine, Festival Internacional de Animação do Agreste e o Festival Brasil Stop Motion, outros começaram depois da indicação de O Menino e o Mundo, no Oscar em 2016, como o Festival Internacional de Animação, o Lanterna Mágica, que fez sua primeira edição em 2017, mas que teve que deixar de realizá-lo em duas ocasiões: uma na época da Pandemia de Covid-19, em 2020, e outra no ano passado, quando a casa da diretora do festival, Camila Nunes (veja entrevista abaixo) foi incendiada.



“Essa sexta edição, onde tomo frente e começo a dirigir o festival sozinha, sem os outros fundadores, seria em Novembro de 2023, mas houve um incêndio na casa em que eu morava, então mais uma vez tive que paralisar todos os meus projetos em andamento, pra conseguir me reestruturar física e mentalmente”, explica.


Será uma edição robusta, como avaliou Camila, que trará pela primeira vez todos os realizadores de curtas da mostra competitiva nacional, além de jornalistas, realizadores e convidados de fora, como mesmo ela gosta de falar que o objetivo é o intercâmbio entre realizadores, público, jornalistas e convidados.


Além das mostras competitivas nacional e internacional de curtas, o festival trará uma mostra especial de países africanos e da América, e exibirá fora de competição longas de animação nacional como o que abre hoje o festival, Bizarros Peixes das Fossas Abissais, de Marão, que não estará pressente, pois está exibindo sua animação no festival no Japão. Ele será representando pelo Fernando Miller sócio e animador do filme.


Camila Nunes é formada em cinema e enveredou pela produção durante o curso, trabalhando no festival Lanterna Mágica como também em animações de curtas e longas. Ela, que nunca dirigiu um filme, irá produzir este ano sua primeira série. “Agora em 2024 vou dirigir a minha primeira série de animação, Ayla Violeta, é um projeto que trabalho no desenvolvimento dele desde 2019 e agora com a LPG vou conseguir desenvolver e produzir. Muitas pessoas da minha equipe são profissionais que conheci através do Lanterna Mágica e de outros festivais de cinema”, respondeu por e-mail para o Esquina.


A produtora e realizadora se orgulha de ser uma mulher negra que está por trás de um festival de animação no Centro Oeste, agora em voo solo, já que pela primeira vez dirige sozinha.


Ela também está otimista com o mercado exibidor diante da quantidade de longas de animação que foram produzidos recentemente, e cita o primeiro longa produzido pelo estado de Goiás, A Ilha dos Ilús, de Paulo G. C. Miranda. E sobre o que espera desta 6a edição do Lanterna Mágica, Camila completa: “Estou muito animada com a sexta edição, porque além de ser a primeira que eu sigo na direção sozinha, sei que tomei decisões importantes e parcerias maiores ainda. Tudo com o intuito de colocar o lanterna mágica no calendário mundial de animação como sendo um dos principais festivais do Brasil a ter os três eixos consolidados, sendo eles: Exibição, Mercado e Formação”.


ENTREVISTA: CAMILA NUNES (Diretora geral do Lanterna Mágica, produtora e realizadora)


Esquina da Cultura: De onde nasceu a ideia de fazer um festival de curtas metragens de animação? Já era internacional desde a primeira edição em 2017? Como foi realizada essa primeira edição, quais dificuldades enfrentadas, aprendizado e o que vocês acertaram logo?


Camila Nunes – Sempre gostei de animação, mas achava que não podia trabalhar nessa área porque não sabia desenhar. Hoje sei que isso não é um empecilho (risos). Mas por ter tido uma infância e formação com filmes de animação sempre tive a curiosidade de saber o que era feito nos outros lugares e países. E até aquela vontade de saber dominar exatamente aquelas técnicas. Quando conheci meu ex- sócio tínhamos essa vontade em comum. Assistir filmes bons de animação e trazê-los para o centro do Brasil, já que não tinha também, festival de animação no centro-oeste. Juntos sentamos e tiramos nossa ideia do papel e surgiu o Lanterna Mágica. O primeiro rascunho do projeto foi escrito em uma lei de incentivo municipal em 2015, mas só conseguiu aprovação em 2017. Ano da primeira edição do festival. Desde sempre ele é internacional, justamente com o intuito de romper as barreiras geográficas e nos aproximar da cultura de outros países.


Esquina: Sua formação é em cinema e audiovisual, e desde a faculdade, na Universidade Estadual de Goiás, você já começou a trabalhar como produtora. No seu currículo de produtora, trabalhou na realização de curtas, longas e séries para TV e streaming. De que maneira essa atividade ajudou na realização de um festival de cinema? Como concilia essa atividade com a de diretora do Festival Internacional de Animação Lanterna Mágica? Você pensa em dirigir um filme?


Camila – Quando entrei na faculdade de Cinema e Audiovisual eu me encontrei na produção, sempre gostei da gestão de projetos: organizar, ticar checklists e fazer com que os sonhos se tornem possíveis. Acredito demais que esse é o papel do produtor criativo. Contribuir com a boa execução de um projeto. Ter encontrado essa habilidade desde o início me abriu muitas portas, pois a produção não é uma área em que todos os estudantes de cinema querem seguir. Então a partir disso eu comecei a experimentar funções como assistente de produção, produtor de set e depois a Diretoria e Coordenação de Produção. Desde a época da faculdade eu já atuava nessas funções nos projetos universitários, quando fui chamada para fazer a direção de produção do meu primeiro curta-metragem e em seguida do meu primeiro longa-metragem. Gostei e gosto dessas funções e nos sets de filmagem, mas atualmente eu não frequento mais os sets, pois tenho uma equipe que trabalha comigo que fica nessas funções. Principalmente porque me encontrei na produção de festivais e também na animação. O meu prazer é encontrar as pessoas e fazer conexões entre projetos. Por exemplo: alguém do norte do país que quer fazer um projeto com alguém do centro-oeste e se conectar com um advogado da área lá do Sul, e o compositor musical da Bahia. Eu amo essas conexões (risos). Por isso os festivais de cinema me dão mais alegria e conexões assertivas. Porque o networking é muito importante na nossa área. Já trabalhei e trabalho em outros festivais de cinema: de documentário, de som, de games, de filmes independentes, mas o que me ganha mesmo é o de animação. Eu sempre falo que o público do Lanterna Mágica é completamente diferente desses outros gêneros que citei, porque ele é mais diverso. Claro que as atividades de formação do festival são para um público nichado, mas as mostras alcançam o público comum, a família, as crianças, os jovens. Justamente porque a animação tem esse poder de ser mais aceita do gosto popular. Então é muito gratificante essa troca com o público e com todos os participantes presentes. Porque nisso eu também faço as minhas conexões. Agora em 2024 vou dirigir a minha primeira série de animação, Ayla Violeta, é um projeto que trabalho no desenvolvimento dele desde 2019 e agora com a LPG vou conseguir desenvolver e produzir. Muitas pessoas da minha equipe são profissionais que conheci através do Lanterna Mágica e de outros festivais de cinema.



Esquina: A primeira edição do festival foi em 2017. Fazendo as contas, em 2024, caso tivesse sido sem interrupções, seria a oitava edição, mas sabemos que no ano passado você teve um sério incidente particular que impediu a realização do festival, o que seria, portanto, a sexta. Além de 2023, qual ano você não pôde realizar o festival e por quê? De que maneira a não realização desses dois anos atrapalharam no festival no tocante a patrocínio, fidelidade de público etc.?


Camila – De 2017 a 2019, tivemos as três primeiras sessões ininterruptas. O que fez com o que o festival já se tornasse parte do calendário anual de eventos de Goiânia, e de festivais internacionais. Com a chegada da Pandemia da Covid-19 em 2020, muitos festivais presenciais foram prejudicados, não só o Lanterna Mágica. Aquela incerteza de quando teríamos eventos presenciais novamente e se teríamos algum dia paralisou todos produtores culturais e também o poder público, que de alguma forma também estava entendendo como poderia lançar editais de fomentos para a classe, e adaptar à nova realidade. Em 2021, a 4º edição do festival aconteceu com a Lei Aldir Blanc completamente online, e os filmes foram exibidos na Plataforma Cardume Curtas. No ano seguinte, em 2022, houve a 5º edição de forma menor, porque os incentivos diminuíram. Mas como o Lanterna Mágica é muito aceito e procurado pelo público, fizemos da mesma forma e mais intimista. Já essa sexta edição, onde tomo frente e começo a dirigir o festival sozinha, sem os outros fundadores, seria em Novembro de 2023, mas houve um incêndio na casa em que eu morava, então mais uma vez tive que paralisar todos os meus projetos em andamento, pra conseguir me reestruturar física e mentalmente. A decisão de adiar o festival foi muito difícil, mas eu não tinha condições de seguir naquele momento. Ao meu lado eu sempre tive uma equipe incrível que me acolheu e entendeu essa decisão naquele momento. O bom diálogo com o poder público para a alteração do cronograma de execução também foi muito importante. Viramos o ano para 2024 e hoje eu vejo que adiar o festival foi a melhor decisão a ser tomada, porque conquistamos novos recursos que somaram de forma significativa o orçamento do projeto. E o Lanterna Mágica já está chegando (risos).


Esquina: A sexta edição vem bem robusta, com nove mostras, competitivas e não competitivas, mostra especial de curtas de animação da África e da América, exibições de longas convidados, produções de oito estados brasileiros e na mostra competitiva internacional, de onze países. Outra novidade deste ano é um lugar de exibição da mostra, que é totalmente gratuita, num espaço comercial, o Cine X, do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Como foi o processo de captação este ano? Qual o orçamento do festival? Como conseguiram chegar uma edição tão robusta e representativa?


Camila – Desde a primeira edição do festival em 2017 eu já sabia exatamente o que eu queria com o Lanterna Mágica e onde eu quero que ele esteja a médio e longo prazo. Essas 5 primeiras edições foram muito significativas, porque sempre trouxemos excelentes profissionais da animação, filmes renomados e premiados no mundo inteiro. Mas o orçamento não permitia trazer todos os realizadores dos filmes para Goiânia. Com o orçamento dessa 6º edição eu consegui trazer todos os realizadores da Mostra Competitiva Nacional, os participantes e tutores do Laboratório Hospital de Projetos Animados e ainda trazer alguns dos realizadores da Mostra Gondwana, que também é uma novidade a partir desta edição. Nesta mostra teremos filmes realizados por pessoas racializadas de África e Américas, incluindo os povos originários. Então eu tô extremamente feliz por mais este passo importante. Reitero aqui o meu interesse e importância de conectar pessoas e projetos. Por ser uma mulher negra à frente de um festival de animação fora do eixo, eu quero estreitar ainda mais essas relações da diáspora Africana. Por isso também a parceria com o Animage, festival que acontece no Recife e que realiza a mostra africana há quatro anos. Todas essas conexões e relações fortalecem a qualidade dos filmes exibidos no Lanterna Mágica, mas principalmente dos profissionais envolvidos. O projeto foi aprovado em três leis culturais distintas, sendo elas a Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Goiânia, a Lei Goyazes e o Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás. E é justamente pelo apoio de uma política pública, que projetos como o Lanterna Mágica é possível. Temos muito o que melhorar nessa esfera do apoio à cultura, ainda mais considerando governantes anteriores que não faziam questão de estimular a indústria cultural. Estamos com mais de 40 convidados para essa edição. Sem dúvidas um marco para o Lanterna Mágica, e também para os festivais de cinema do Centro Oeste. São nos festivais que as trocas entre realizadores são mais possíveis, são nos festivais que grandes negócios são feitos. O Lanterna Mágica é um local de encontros, não só de realizadores com o seu público, mas de realizadores com outros realizadores permitindo o crescimento contínuo de uma indústria que necessita sempre da troca.


Esquina: O que você destacaria nesta edição? Ao realizar sessões de longas de animação este ano, como, por exemplo, o filme de abertura, o brasileiro Bizarros Peixes das Fossas Abissais, de Marão, cogita em ter uma mostra de longas competitiva? Fale um pouco da mostra africana e da América…


Camila – Desde a primeira edição do festival existia a Mostra de longas-metragens convidados. Nesta mostra nós escolhemos com muito cuidado os longas a serem exibidos. Normalmente são filmes de produtoras independentes nacionais e/ou latino americanos. Isto porque a concorrência com a animação nas salas de cinema comerciais é desleal. Então durante o Festival Lanterna Mágica nós trazemos filmes recém lançados de excelente qualidade para o público goiano. O foco também é trazer realizações fora do eixo Rio São Paulo com o intuito de fortalecer e mostrar a qualidade desses filmes que nós fazemos. Nessa 6º edição teremos na abertura o filme Bizarros Peixes das Fossas Abissais, do Marão, parceiro antigo do Festival. Ele infelizmente não poderá estar presente, pois está no Japão em outro festival, então o Fernando Miller sócio e animador do filme estará conosco para o debate. Além dele, exibiremos o Sonho de Clarice, longa-metragem de Brasília dirigido por Fernando Gutierrez e Guto Bicalho e, no encerramento, o filme Placa-Mãe que será distribuído pela O2 Play de Igor Bastos, diretor mineiro. Todas essas exibições serão acompanhadas de debate com os diretores do filme, porque a discussão enriquece muito o debate e a qualidade do festival. A troca entre diretores, animadores e o público em geral. Nosso interesse a médio prazo é o de continuar a estimular a comercialização de longas metragens de animação independentes, através de suas exibições em sessões especiais, mas não de criar mostras competitivas para eles. Mantemos a competição entre os curtas e celebramos esses encontros.



Esquina: O Brasil é um celeiro de produção de curtas e alguns longas de animação, mas que ainda não teve o devido reconhecimento e abertura no mercado exibidor. Fale um pouco a respeito….


Camila – Confesso que estou um pouco mais otimista com a situação do cinema e da cultura como um todo. Nesse governo atual principalmente. Várias decisões importantes estão sendo tomadas e retomadas. Uma delas é a lei 14.814/24 que reinstituiu a cota de exibição para filmes brasileiros até 2033 em salas de cinema. Isso faz com que as nossas produções tenham um espaço obrigatório de exibição. Porque o que acontece na maioria das vezes no mercado de exibição é: o produtor finaliza o filme, faz o circuito de festivais de cinema e depois o filme acaba "voltando pra gaveta" tendo uma exibição ou outra esporádica. Ou ainda, quando os filmes conseguem uma distribuidora, a concorrência é desleal. Ano passado acompanhei a distribuição do longa-metragem A Ilha dos Ilús, da Mandra Filmes. E na mesma época a Patrulha Canina também estava circulando nas salas comerciais. A concorrência é tão discrepante que houve um momento em que A Ilha dos Ilús estava só em 3 salas na cidade de Goiânia, ao passo que a Patrulha Canina estava em 20. Com a nova lei, os cinemas têm a obrigação de exibir produtos brasileiros em mais salas. Fazendo com que diminua a concorrência e democratize o acesso. Já os curtas-metragens são um pouco diferentes, porque não existe ainda, uma cauda longa comercial consolidada. Então geralmente a primeira janela de exibição destes curtas são os festivais de cinema no Brasil e no mundo, e depois alguns canais específicos pagam um valor bem baixo de licenciamento, isso quando pagam.


Esquina: Como anda a produção de curtas de animação em Goiás? Por que o estado abriga uma boa produção de curtas de animação? Já se produziu um longa de animação no estado? O que falta ainda ser feita para que essa produção ganhe mais mercado?


Camila – O ano de 2023 foi bem importante para o estado de Goiás, pois nele tivemos o lançamento do primeiro longa de animação, o filme A Ilha dos Ilús, da Mandra Filmes, [dirigido por Paulo G. C. Miranda]. Além disso a premiação do melhor curta de animação do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro veio para o nosso estado com o filme A Menina atrás do Espelho, da Caolha Filmes [dirigido por Iuri Moreno]. Os filmes Micronauta, da Macaco Hábil e Geração Alpha da Caolha Filmes, foram dois projetos selecionados, entre os 16 no último edital da Petrobrás Cultural. Sendo que este mesmo edital recebeu mais de quatrocentos inscritos do país inteiro. Muito significativo também, porque são produtoras fora do eixo. Muitas produtoras aqui do estado têm produções lançadas ou em andamento, ainda mais agora com o edital da LPG. Por outro lado, a gente ainda enfrenta um grave problema com as políticas públicas que querem igualar a animação com o live action. A animação naturalmente é mais cara e o processo mais demorado do que os outros gêneros, por exemplo. Então agora, com os projetos da lei Paulo Gustavo, "em tese" muitas produções serão lançadas nos próximos anos. Mas com orçamentos abaixo do valor de mercado e em tempo recorde de execução. Isso se dá devido ao problema do poder público não ouvir as necessidades e realidades de produção da animação.


Esquina: Quais são suas expectativas para a sexta edição do festival?


Camila – Estou muito animada com a sexta edição, porque além de ser a primeira que eu sigo na direção sozinha, sei que tomei decisões importantes e parcerias maiores ainda. Tudo com o intuito de colocar o Lanterna Mágica no calendário mundial de animação como sendo um dos principais festivais do Brasil a ter os três eixos consolidados, sendo eles: Exibição, Mercado e Formação.


Esquina: Será uma edição que terá uma cobertura da imprensa de fora do estado, o que trará mais visibilidade para o festival. O que você espera dessa cobertura da imprensa local e de fora. E comente da primeira realização do Prêmio da Imprensa dentro das mostras competitivas…


Camila – Sempre acreditei que temos que andar juntos com a imprensa, seja ela local, nacional ou internacional. Porque sem a imprensa ao meu lado, eu posso fazer projetos e ações incríveis, mas se elas não forem comunicadas para o público de forma correta o resultado não será o mesmo. Então ter assessoras nacionais e trazer veículos e jornalistas escolhidos a dedo contribuirá com o posicionamento do Lanterna Mágica nas diversas plataformas. Duas ações importantes a partir dessa 6º edição são: o café da manhã exclusivo para a imprensa em que nele lançaremos a programação do festival e também o prêmio de melhor filme da imprensa. Nessa premiação os jornalistas aqui presentes poderão escolher o melhor filme do festival para premiar.


Esquina: O Brasil já teve reconhecimento internacional da nossa produção de curtas e longas de animação, com exibições e prêmios em alguns festivais de animação importantes no mundo, como o Festival de Annecy, na França, a nossa primeira indicação de um longa no Oscar da categoria de animação com o ótimo O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, e um dos melhores festivais de animação, o Anima Mundi, que infelizmente não acontece mais. O que falta ainda fazer para que a produção de animação no Brasil ganhe mais visibilidade e reconhecimento de público e crítica? De que maneira o Anima Mundi influenciou a realização do festival de vocês?


Camila – O Anima Mundi sem sombra de dúvida ainda é e foi uma das maiores referências para todo o público que ama trabalhar com animação. Através do festival nós tivemos contatos com outros tipos de filmes, novas linguagens, cursos de formação e principalmente o networking. Uma pena que ele não exista mais, mas com certeza deixou a inspiração e um legado de animadores e aspirantes pelo país. Mas como falei outras vezes, eu acredito muito no poder do encontro e das trocas, por isso já me conectei com os realizadores de outros filmes e festivais. A Aída Queiroz, diretora do Anima Mundi, já foi júri do Lanterna Mágica, o Alê Abreu também e de quebra ainda exibimos O Menino e o Mundo. Ter esses realizadores como inspiração, mas lembrar sempre de trazer e potencializar a produção fora do eixo Rio São Paulo, por isso é importante trocar com eles, mas seguir valorizando a produção e internacionalização aqui do centro do Brasil. E esse é o papel do Lanterna Mágica.

 

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