Escrever esse texto é algo extremamente doloroso pra mim, então já antecipo aqui seu caráter emocional. Hoje, chegando em casa, ainda no elevador, recebo uma mensagem. É uma notícia do O Estado de São Paulo sobre Tom Petty. Antes de ler, sou tomada por uma ansiedade achando que ele enfim faria um show no Brasil, algo que tem sido meu sonho há alguns anos. Mas não. A notícia era a respeito de sua saúde: após um ataque cardíaco, estava hospitalizado. Horas depois, outros veículos começam a noticiar sua morte. E aquilo ainda parecia irreal pra mim. Aos 66 anos, um dos ícones do rock norte-americano, havia falecido, e tão de repente.
Tom Petty foi um artista que marcou uma geração, uma geração anterior a minha. Mas suas músicas são atemporais e comovem qualquer um que tenha o mínimo apreço pelo mundo musical. Seu álbum ao vivo The Live Anthology é uma grande obra-prima da qual me orgulho ter um exemplar. São 48 faixas gravadas em shows que aconteceram entre o período de 1980 até 2007. Por ser um box dividido em 4 CDs, não imagino que todos tenham o interesse em escutá-lo por completo. Mas algumas músicas são essenciais, e inclusive capazes de mudar sua perspectiva.
A música sempre teve um caráter muito terapêutico pra mim. Mais do que isso, sempre trouxe alguma forma de impacto, afetivamente falando. Quando escuto Free Fallin e Learning to Fly sou levada para 2013, provavelmente um dos anos mais difíceis da minha vida. Foram músicas que me ajudaram a tirar um peso das costas e, consequentemente, perceber a vida de uma forma mais leve. Finalmente me dei conta da minha própria humanidade e pude aceitar meus erros. O interessante é como, na época, essas músicas me tocaram pela melodia. Só depois pude perceber como eram o retrato daquilo que eu precisava, e naquele momento.
Lembro que nesse mesmo ano, tive a oportunidade de assistir a um show de John Mayer, em setembro. E foi uma enorme surpresa vê-lo cantar sua versão de Free Fallin ao vivo, diante de milhares de pessoas na Arena Anhembi. Ainda que muitos ali não soubessem quem era Tom Petty, a maioria sabia a letra. E aquilo me emocionou. Pude ver seu legado sendo transmitido. Lembro de conversar com uma amiga após o show; ela dizia que chorou muito quando John tocou essa música. Respondi que não sabia que ela gostava, ou sequer conhecia, Tom Petty. Não deu outra: ela não fazia a menor ideia de quem era. E posso dizer com certeza que ela não era a única nessa situação. Mesmo sem saber o nome daquele compositor, as pessoas admiravam a música, e muitas se emocionavam. A beleza de suas músicas conseguem ser passada por artistas que, assim como Tom, eram apaixonados pelo que faziam.
Hoje, dia 2 de outubro de 2017, enquanto assimilo a notícia de sua morte, involuntariamente começa a tocar Wildflowers na minha cabeça. Você pertence a um lugar que se sinta livre. Obrigada por cada composição, por cada música. Apesar de triste nesse momento, não posso esconder como sou feliz (e grata) por ter nascido numa época em que você estava fazendo aquilo que você sempre fez de melhor: música. Você influenciou artistas com suas letras e melodias admiráveis, mas também tocou o mundo com sua humanidade. Descanse em paz, você nunca será esquecido.
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