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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Diário da Minha Cabeça' vai além de filme criminal comum


O 7º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo está se provando, a cada filme exibido, como um dos grandes momentos culturais do Brasil em 2018. Depois dos acertos Hafis & Mara e Animais, o evento cinematográfico apresenta o excelente Diário da Minha Cabeça, comandado pela cineasta francesa Ursula Meier (O Lar). É um filme sobre um crime, mas que vai muito além de qualquer trama banal sobre investigação policial e criminal.

A história já é forte desde seu embrião: Benjamin Feller (Kacey Mottet Klein) é um jovem confuso, impulsivo e problemático que está se programando para matar seus pais. Ele testa a arma, pensa no plano continuamente e, pouco antes de executar o crime, revolve enviar pelos correios, à sua professora de literatura, um extenso diário no qual vomita seus anseios, medos e desejos. É, praticamente, uma carta de confissão e de explicação do que foi feito.

A partir daí, a diretora cria uma trama desesperadora. Afinal, ao contrário do que o público está acostumado, o crime não é tratado de forma fantasiosa, cheia de investigações, peritos e tramas mirabolantes. Pelo contrário: Meier deixa de lado quaisquer clichês do gênero para apostar numa história racional, ainda que pouco linear, sobre um rapaz que cometeu um crime para se expressar e mostrar suas ideias ao mundo.

É um fiapo de trama, superficialmente simples, mas que esconde aspectos inteligentes por trás. Os personagens de Benjamin e da professora Esther (Fanny Ardant), por exemplo, vão se desenvolvendo a cada explosão narrativa e isso, mesmo tendo uma trama lenta, entrega dinamicidade à história. Nas entrelinhas, outras temáticas são criadas, como a relação entre aluno e professor e até onde vai a responsabilidade por um crime -- ainda que algumas coisas sejam pouco tratadas e tenha alguns excessos narrativos.

O grande ponto alto, porém, está no roteiro da própria Ursula Meier e de Antoine Jaccoud. Eles não entregam tudo de bandeja à audiência, que precisa se misturar com a trama para compreender, entender e se posicionar com relação ao que está ocorrendo na tela. Não é um exercício simples, já que o dilema exposto na película extrapola o que é normal nesse tipo de filme. É intenso, é brutal e é corajoso, brincando com a moral e a mente da audiência.

Sem dúvidas, um presente que a Suíça entrega ao cinema mundial.

 
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