Na última semana, o ator sueco Michael Nyqvist morreu por conta de complicações de um câncer de pulmão. Apesar de estar sempre olhando sites de notícias e de ser um grande admirador deste ator, soube da notícia de sua morte apenas dois dias depois, quase sem querer, quando esbarrei numa nota de pesar. Nos grandes portais de notícias, quase nenhuma divulgação e, o que mais me surpreende, total ausência de materiais especiais sobre ele em sites e publicações especializadas em cinema.
A pouca divulgação da morte de Nyqvist é um absurdo para quem acompanhou a sua carreira nos últimos anos. Apesar da grande distância geográfica e linguística de Nyqvist em relação ao Brasil e ao português, seu trabalho como ator vinha se diversificando ao longo dos últimos anos e, além das produções suecas, o ator de 56 anos começou a se arriscar em grandes filmes de Hollywood -- como é o caso de John Wick e Missão Impossível: Protocolo Fantasma, onde fez vilões russos e de origem nórdica.
Porém, além disso, Nyqvist teve outros grandes acertos em sua filmografia recente. Em A Garota do Livro, o ator sueco chocou como um homem que se aproveita da inocência de uma menina, ao melhor estilo de Lolita. E apesar dos erros do filme, dirigido pela diretora Marya Cohn, que ainda não tem uma carreira expressiva, A Garota do Livro é um daqueles raros filmes que ficam presos em pensamentos por conta de sua trama assombrosa, mas verdadeiramente próxima de quem o assiste.
Outro filme nesta linha é o ignorado Colônia -- que chegou ao Brasil em DVD com o título Amor e Revolução, em um exemplo de mal gosto terrível da distribuídora brasileira. Com Emma Watson e Daniel Brühl, o filme acompanha um casal que fica preso na Colonia Dignidad, um retiro chileno e que abrigou -- e abusou -- de dezenas de mulheres e crianças ao longo da ditadura de Pinochet. É uma história dura e real, que é intensificada pela atuação de Nyqvist como o responsável por toda a coordenação da colônia.
O ponto alto de sua carreira, no entanto, está em seu passado. Apesar de ter feito filmes ótimos e marcantes como Day and Night e Suddenly, o marco de Nyqvist no cinema sueco está na primeira adaptação da série de livros Millenium. de Stieg Larsson. Contando a história de Lizbeth Salander, a trilogia marcou gerações e foi adaptada para os cinemas, em 2011, pelas mãos do diretor David Fincher. E apesar do sucesso do filme, que contou com Daniel Craig no elenco, produção dos EUA ficou muito aquém da sueca.
Além de mais corajosa, a trilogia de filmes sobre obra de Larsson tinha Nyqvist no papel principal, que depois ficou com Craig. Ele encarnou a personagem de Mikael Blomkvist com uma perfeição estonteante para quem conhecia os livros, tornando qualquer outra interpretação -- incluindo a do ex-James Bond -- mais fraca e sem grande destaque. Nyqvist marcou sua carreira, marcou todo o cinema sueco e o gênero policial. Não é à toa que, quem assiste a versão sueca, não a esquece tão cedo.
Por isso tudo e mais um pouco, é um crime a falta de reconhecimento com o trabalho de Nyqvist após sua morte. Coeso em suas escolhas profissionais e sempre impecável em suas atuações, o ator merecia mais atenção, mais projeção e muito mais honrarias do que foi visto recentemente. Por isso, digo e repito: não deixe de ver seus filmes, principalmente os que aqui foram citados. É um dever para qualquer cinéfilo conhecer a obra de Nyqvist, e não deixá-lo morrer em nossas mentes tão cedo.