Única estreia da Marvel Studios em 2024, Deadpool & Wolverine é um filme ideal para “arrumar a casa”. Não só é a oportunidade para ”resolver” o que fazer com os personagens da já finada 20th Century Fox, como também mexer com as linhas do multiverso. É a hora de tentar colocar a marca de volta aos trilhos, após fracassos inesperados para o estúdio, como As Marvels, Thor: Amor e Trovão e, claro, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania.
A grande surpresa é que Deadpool & Wolverine, que estreia nesta quinta-feira, 25, está bem longe de ser um filme que arruma as coisas – e tampouco bagunça qualquer outro elemento. É mais um filme que encara um vasto nada: precisa começar e terminar sem nenhum arranhão nessa franquia, sem realmente resolver o multiverso ou ampliar a força de sua história. É um filme que aposta totalmente nos fãs e que está bem feliz com isso.
Dirigido por Shawn Levy, cineasta-operário com a cara da Marvel, o longa-metragem mostra Deadpool (Ryan Reynolds) resolvendo um problema da linha do tempo em que vive após perder a Âncora que garante a existência daquele mundo. Para salvar sua realidade e evitar a morte de amigos queridos, ele precisa recorrer ao Wolverine (Hugh Jackman, na oitava reprise de seu papel). O esperado reencontro após o fiasco de X-Men: Origens - Wolverine.
Falar sobre essa nova história de Deadpool é lembrar de maneira incessante de Star Wars. Para quem não lembra, Rian Johnson tentou dar um novo fôlego à franquia com Os Últimos Jedi, mas não agradou uma massa barulhenta e machista de fãs. Eles reclamaram e a casa do Mickey matou essas ideias originais com A Ascensão Skywalker. A decisão mais forte foi abandonar a nova personagem de Kelly Marie Tran, alvo de um pesado bullying na internet.
Não há nada tão flagrante em Deadpool & Wolverine – já que nenhum dos filmes anteriores era realmente original. O problema é que, de novo, a Disney parece estar apostando tudo nesses fãs barulhentos. Não há realmente uma história aqui, mas apenas truques na trama para fazer com que as pessoas gritem de novo nos cinemas, como aconteceu com Ultimato, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e, enfim, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
A solução que Kevin Feige, produtor da Marvel, encontrou para esse fraco desempenho do estúdio não foi contar uma boa história, com boas ideias, mas apenas espalhar um punhado de participações especiais nos mais de 120 minutos, mexer com a nostalgia dos fãs e fazer piadas que variam entre autorreferências, cunho sexual e outras que admitem que tudo está errado no filme, com excesso de didatismo, mas que tentam se eximir com a audiência.
O fato é que, nesse processo todo, duas coisas acontecem. Primeiramente, a Marvel aposta todas suas fichas no clamor dos fãs e no barulho que eles vão fazer para abafar eventuais críticas. A outra é que o estúdio usa a voz de Deadpool – e de Ryan Reynolds – para tentar se desculpar com a audiência. Várias vezes o personagem diz que está tudo errado, que a fase é ruim, que o multiverso não presta. É como se a Marvel estivesse falando: “fiquem fiéis e tranquilos, nós vamos conseguir arrumar isso tudo”. Mas nada de concreto é feito.
Pelo contrário: assim como foi em Multiverso da Loucura, grandes atores aparecem aqui e ali apenas para que o público aponte para a telona e fique empolgado com um retorno triunfal. Logo depois, são mortos ou desaparecem, geralmente sem grandes efeitos na narrativa. Tudo para gerar esse buzz, esse barulhinho chato que mata qualquer voz original.
Deadpool & Wolverine, sem dúvidas, vai satisfazer aquele fã que ficou esperando pelo Homem de Ferro do Tom Cruise em Multiverso da Loucura ou que ficou fascinado quando Patrick Stewart atuou ao lado de John Krasinski. Mas, de novo, voltamos à pergunta: e aí? Sem saber o que fazer, a Marvel anda em círculos, correndo de um lado para o outro, com vontade de ser relevante novamente. Pode até fazer sucesso na bolha, mas dificilmente vai sair do lugar e conversar com quem está do lado de fora, só aguardando boas histórias.
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