Murilo Rubião estreou na literatura na década de 1940 e morreu em 1991, com 75 anos. E apesar desse longo período de atividade, o escritor mineiro produziu apenas 33 contos publicados em livro -- e que estão reunidos num compilado da Companhia das Letras. E apesar da produção concisa, há características em comum que são facilmente percebidas ao passear por sua literatura. O realismo fantástico, a linguagem clara, a importância dos narradores e da epígrafe são algumas das que mais se destacam ali.
Abaixo, o Esquina selecionou os cinco contos mais expressivos de Rubião e, juntamente, apresentou alguns dos motivos para que eles sejam destacados frente aos demais:
Bárbara
"Bárbara gostava somente de pedir. Pedia e engordava". É assim que começa o conto Bárbara, que traz o melhor da literatura de Rubião para as páginas dos livros. A história acompanha a jornada de um homem que faz de tudo para sua esposa, que dá nome ao conto. Ela, como dito nas primeiras frases da trama, pedia as coisas mais extravagantes possíveis -- de comidas à navios. E o marido a correspondia. Até que a coisa sai do controle. De aspecto fantástico, e que lembra muito a literatura de Gabriel García Márquez, Bárbara surpreende o leitor pelo rumo que toma e como vai se resolvendo. O final é belíssimo. Arrisco dizer que o mais belo dos 33 contos de Rubião.
Teleco, o Coelhinho
Este aqui começa quase como uma fábula. Um coelho começa a conversar com um homem comum. E vai além: mais do que ser um coelho falante, a criatura é metamorfa. Altera sua forma, ganhando aspecto dos mais diferentes animais. Rapidamente os dois viram amigos e Teleco, o ser que se transforma, vai morar na casa do rapaz. No entanto, o coelhinho começa a crescer e... Teleco, o Coelhinho é uma fábula, de fato, mas que não tem contornos otimistas em sua mensagem. Traz uma profunda lição sobre amadurecimento, mudanças de comportamento e coisas do tipo. Forte e inesperado.
Os dragões
Quem já está imerso no universo de Rubião -- e, principalmente, os que estiverem lendo a obra completa do autor já citada -- vai brilhar os olhos ao ver que o mineiro também se aventurou a explorar a figura dessa criatura mítica e mística. E, de fato, a animação do inicio não arrefece e Rubião consegue manter a empolgação até o fim. Os Dragões é um conto que, mesmo escrito décadas atrás, ainda traz aspectos importantes como a relação com o diferente e xenofobia. Tudo isso por meio de uma narrativa que conta a história de dragões que chegam numa cidade e que são rejeitados. Só depois essas pessoas, contrárias à presença dessas criaturas, percebem o potencial que teriam ali.
O edifício
Como ressaltado pelo pesquisador Ricardo Iannace, da Universidade de São Paulo, Rubião faz uso frequente da arquitetura em seus contos. Em O Edifício, especificamente, o escritor mineiro pega a ideia de um prédio que nunca para de ser construído para ilustrar a solidão humana. E o resultado é fabuloso. Os percalços no caminho lembram a jornada da humanidade e o edifício, dantesco e incoerente, mostra as incongruências da existência -- um tipo de metáfora, aliás, que lembra o filme Mãe!, de Darren Aronofsky. Um conto forte, potente, arraigado de significados e que mostra a criatividade de Rubião.
A fila
Em A Fila, Murilo Rubião tece uma crítica esperta e precisa sobre um aspecto que permeia as políticas brasileiras até hoje: a burocracia burra. Representado por meio de um homem que tem algo importante a falar com um governador, a sociedade é retratada de forma desesperadora. As coisas não acontecem, as situações se aglutinam. Parece que tudo fica preso na burocracia. Aqui, Rubião traz um aspecto paradigmático potente e que traz um aspecto curioso e otimista ao final. Difere um pouco de outros contos por isso, mas não deixa de causar reflexão. Merece ser lido, principalmente hoje.
Os contos dele são bobagens. Conto de verdade é realista e com enredo. Ricardo da Mata