Se depois de Sócrates ainda havia alguma dúvida de que Alexandre Moratto é um dos grandes nomes do cinema brasileiro, não há mais. O cineasta brasileiro-americano é o nome por trás de 7 Prisioneiros, drama da Netflix e que fez sua estreia no Festival de Toronto. Tenso e intenso, o longa-metragem já surge como o principal nome para o Brasil no Oscar para o ano que vem.
O filme, afinal, fala de uma história extremamente real e urgente: o tráfico de pessoas do interior do país para as capitais, onde trabalham em situação análoga à escravidão. Aqui, em 7 Prisioneiros, acompanhamos a história de quatro rapazes, com foco em Mateus (Christian Malheiros). Vieram do interior paulista para trabalhar no ferro velho de Luca (Rodrigo Santoro).
No entanto, ao contrário de segurança, contrato e carteira assinada, encontraram um trabalho que os tornou escravos. Afinal, Luca cobra uma dívida astronômica por coisas simples (transporte, uma cama para dormir, banhos, etc) e os rapazes, sem dinheiro, precisam trabalhar para pagar. A polícia? Está do lado do bandido. E os quatro jovens não veem mais escapatória.
É um filme desesperador e de história extremamente real e que, a partir do drama desses meninos, deixa o espectador tenso na ponta do sofá. É interessante a forma naturalista que Moratto tem para filmar, como já tinha mostrado em Sócrates, valorizando ainda mais as atuações -- Santoro está muito bem, mas Malheiros dá um show em cena como Mateus.
Uma pena que o filme dê algumas derrapadas lá pela metade, quando fala sobre tráfico de pessoas de outros países. O tema passa de maneira rasteira pela trama e não se sustenta. Parece que o cineasta e roteirista quis apenas mostrar rapidamente como isso também existe sem se aprofundar. Teria sido melhor apenas ser um diálogo, uma fala rápida, por exemplo.
Mas 7 Prisioneiros, ainda mais com seu final amargo e ousado, é um filme deveras marcante. A Netflix, ao lado da O2, deve (e precisa!) investir pesado nas possibilidades desse filme ir para o Oscar. Vai ser indicado? Não sei. Vai ganhar? Improvável. Mas, sem dúvidas, pode colocar o Brasil de volta no mapa do prêmio máximo de Hollywood, após duas décadas totalmente afastado.
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