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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Casa Sombria' é filme de terror que não consegue se decidir


Em determinado momento da história de A Casa Sombria, ainda em sua primeira metade, Beth (Rebecca Hall) conta que ela e o marido, morto há alguns dias, não concordavam com uma única coisa: a vida após a morte. Ela, quando sofreu um acidente, ficou em parada cardíaca por quatro minutos. Não viu nada. Não teve o Além. Só um vazio, uma escuridão. Ele, enquanto isso, seguia um caminho diferente: acreditava que, sim, havia um mundo melhor depois do nosso apagão.


Parece, nesse ponto da narrativa, que A Casa Sombria vai seguir por um caminho existencialista interessante -- ainda que, mesmo antes dessa reflexão da personagem de Hall (Christine), o diretor David Bruckner já tenha mostrado uma inconsistência preocupante. Afinal, mais do que um embate de ideias, agora Beth não aguenta imaginar que não vida depois da morte. Ela quer acreditar que o marido está bem onde quer seja. Não à toa, começa a ter visões com fantasmas.


No entanto, rapidamente, Bruckner abandona essa questão e começa a ziguezaguear por aí, numa narrativa que não se decide. Fala sobre obscurantismo, crimes, paranoia, saúde mental. É um filme perdido em suas próprias pretensões, em seus próprios desejos. Essa dualidade interessante que aparece no começo, entre o que a protagonista acredita e o que deseja crer, é deixada de lado. E o filme tenta se aprofundar, novamente, nessas questões de saúde mental.

Só que há outras produções, como o excepcional Babadook, que conseguiu resultados muito melhores. Bruckner (O Ritual) fala sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Ainda que um susto ou outro seja bem encaixado, como uma sequência em que Beth vê um vulto de maneira bem clara no seu porão, não há um pungência ou profundidade no que é contado. Parece que o roteiro, assinado por Ben Collins e Luke Piotrowski, não decide qual caminho seguir na história.


Isso fica ainda mais claro na conclusão, quando a história finalmente abraça uma dessas vertentes e todo o restante fica abandonado -- o que aquelas mulheres realmente tinham a ver com o marido? O que ele tinha de fato? São questões que o longa-metragem traz e parece que nunca quer realmente revelar. Uma bagunça completa. Pelo menos Hall está em um de seus melhores papéis, com profundidade e alguns momentos realmente impactantes na trama.


Mas, no final, não tem como impedir aquele gosto amargo na boca, ainda que o filme deva agradar aqueles que buscam algo pra passar o tempo e não se preocupam, exatamente, com tudo aquilo que o longa-metragem poderia ser. Uma pena. Além da entrega de Hall, deu para sentir que havia muito mais história a ser contada por aqui. Perdeu-se, assim, uma oportunidade excelente para focar em um desses assuntos e, enfim, deixar de ser um amontoado apenas.

 

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