Você pode nunca ter ouvido falar sobre, mas a Casablanca Records foi um dos pilares da era disco na música norte-americana. Não só bateu de frente com grandes players da indústria, se impondo na forma de fazer e distribuir música, como também foi a porta de entrada de grandes nomes como Kiss, Donna Summer, Village People, Love and Kisses e Cher. E é justamente essa história que (tentam) contar em A Era de Ouro, drama que estreia nos cinemas nesta quinta, 10.
Em essência, o objetivo do longa-metragem é honesto e interessante: como uma gravadora independente conseguiu mexer com as estruturas da indústria musical norte-americana? Como um só selo descobriu e lançou nomes como Kiss e Donna Summer? São perguntas interessantes e que despertam, logo de cara, um certo humor por parte do público que, nos últimos anos, foi brindado com cinebiografias de Queen, Elton John e, em breve, de Bee Gees.
O problema é que não adianta ter apenas interesse do público e uma boa história para contar para conseguir ter um bom resultado. Aqui, as dificuldades nascem e crescem já a partir da escolha de Timothy Scott Bogart como cineasta. Se não sabe quem é, explico: é filho de Neil Bogart, o fundador da Casablanca e o principal biografado aqui. Agora me diga uma coisa. Se você fosse fazer um filme sobre seu pai ou sua mãe, não douraria a pílula, limparia a barra?
É exatamente isso que Timothy faz aqui. Ele pisa o pé no freio e, ao invés de fazer um espetáculo babilônico sobre a gravadora que foi a manjedoura da era disco, ele coloca uma estética de cinema evangélico. Tudo é muito polido, dourado, simpático, honesto. As derrapadas de Neil (que tem todos os aspectos de um pilantra de marca maior ao longo de sua carreira) são justificadas. Até mesmo o uso de drogas parece mais simpático, menos ameaçador, na mão de Timothy.
Além disso, é preciso destacar como o cineasta e roteirista é pouquíssimo talentoso. Antes de dirigir a história de seu pai, comandou o pouco conhecido Páginas de uma Vida, em 2005, e mais nada -- e há uma explicação para isso. Primeiramente, seu texto é absolutamente confuso: nunca sabemos bem em qual momento as coisas estão acontecendo, qual é a gravadora do momento, onde Neil está trabalhando e sequer qual é o seu nome usado naquele momento.
Ele deixa a coisa complexa demais no roteiro. Enquanto isso, em termos visuais, tudo é muito simplificado. Enquanto não entendemos nada da história, fica a impressão de que, estética e visualmente, Neil Bogart está abrindo uma padaria de tão simples que as coisas se desenrolam em cena. Não há desafio, clímax, nada. Ainda há um protagonista, interpretado por Jeremy Jordan (de Supergirl), fraco de tudo. Não passa a força e a violência que o personagem exige.
É claro que a trilha sonora de A Era de Ouro é bom. Não tinha como não ser -- e isso não é mérito algum do cineasta. Se até isso fosse ruim, era caso de interditar o diretor. Pelo menos isso funciona. Mas não salva: o longa-metragem continua sendo vergonhoso de tão caricato, bobo, artificial. Deveria ter um vigor de O Lobo de Wall Street ou até mesmo o caos de Babilônia, mas acaba tendo a aura de um filme evangélico que não tem nada interessante pra contar.
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