Crítica: ‘A Lenda de Ochi’ é filme com muitas ideias e pouco coração
- Matheus Mans
- 28 de mai.
- 2 min de leitura

Existe uma cena em História sem Fim, um daqueles clássicos da Sessão da Tarde, em que o cavalo do protagonista fica preso na areia movediça. Aquele momento era torturante de assistir quando era criança. Não por ser fora de tom ou exagerado, mas por ser a apoteose de um filme com alma e coração, e que soube contar uma história que fazia qualquer um se apaixonar -- adulto ou criança. E é exatamente isso que A Lenda de Ochi não sabe fazer.
Estreia desta quinta-feira, 29, o longa-metragem é, claramente, um filme que se inspira nas aventuras fantásticas dos anos 1980 e 2000, como o já citado História sem Fim, O Cristal Encantado, Labirinto e afins. Afinal, o coração da história é sobre uma garotinha que resgata uma criatura mágica -- e tida como demoníaca por muitos de seu vilarejo. Mas, ao contrário do imaginado, nada de ruim acontece. A garota e a criatura se tornam amigos.
A partir daí, num ato de rebeldia, a protagonista decide sair por aí com o monstrinho para tentar encontrar um lugar seguro para ele. A jornada se torna também uma história de autoconhecimento, é claro, com a menina entendendo mais sobre o bicho e ela própria.
É um filme esteticamente brilhante. Não há absolutamente nada a se observar negativamente no trabalho de fotografia (de Evan Prosofsky), de design de produção (de Jason Kisvarday), de cenografia (Kelsi Ephraim) e afins. Todos esses trabalhos, sob a batuta do diretor estreante Isaiah Saxon, é de encher os olhos. A vila em que tudo se passa parece saída de um livro de fábulas e tudo ali remete aos sonhos fantásticos dos anos 90.
Mas a estética parece ser a única preocupação de Saxon. Afinal, a história é um fiapo e nunca se desenvolve plenamente, ao contrário desses filmes tão similares que comparamos anteriormente. A Lenda de Ochi se revela lindo por fora, mas vazio por dentro.
Talvez isso surja um pouco também pela estranheza exagerada na coisa toda. O longa, que tem o selo da A24, é frio demais, distante demais. Há pouca emoção envolvida, já que é muito calculado em vários momentos. Nem mesmo as boas atuações de Willem Dafoe e Emily Watson ajudam a elevar isso, já que o trabalho da protagonista, vivida por Helena Zengel (de Transtorno Explosivo), é sempre jogado para um lado mais exótico e, logo, distante. Fica a sensação de uma história que não conversa com ninguém do público.
E esse é o maior pecado de A Lenda de Ochi. Tudo é lindo, mas vazio. Não empolga e não emociona, algo crucial nessa narrativa. Nem mesmo a simpatia da criatura encontrada pela protagonista, o tal Ochi, ajuda a mudar isso. Mistura de Baby Yoda com algum símio, o monstrinho é simpático, mas a falta de conexão joga tudo pra baixo. É um filme que merecia (e que podia) muito mais, mas o excesso de cálculo e frieza impediram que o filme alce voos maiores como História sem Fim, na memória mesmo décadas depois.


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