Brittany (Jillian Bell) é uma mulher, em Nova York, que tem uma vida desregrada. Bebe, usa drogas, não mantém uma rotina saudável. Isso muda quando um médico diz que ela está acima do peso e o que isso pode acarretar na vida da jovem nova-iorquina. É o empurrão pra ela mudar sua rotina e começar um treino intenso de corrida de rua. Até chegar na famosa Maratona de Nova York, o sonho de qualquer corredor profissional.
Dirigido pelo estreante Paul Downs Colaizzo, A Maratona de Brittany é um filme, inicialmente, convencional sobre esporte e superação. Cada passo, cada meta alcançada, é um avanço na jornada de uma vida melhor. Algo já visto em longas como Rocky Balboa, por exemplo, e até o recente e simpático Voando Alto. Não é algo raro. Muito menos a embalagem do filme, tipicamente indie e sem grandes saltos.
As cores são vibrantes, a personagem tem um vestuário que tenta ser marcante e a edição é ágil, com ângulos da câmera pouco convencionais. Ou seja: mais do mesmo.
No entanto, apesar desses clichês e das mesmices, A Maratona de Brittany tem um frescor interessante. Uma história boa, atual, e que reverte bobagens como a vista na comédia Sexy por Acidente. Mais do que contar uma história de superação, o roteiro do próprio Colaizzo se aprofunda no bem-estar de cada um e na necessidade exagerada de estar de acordo com padrões. E não é um caminho esperado. Aqui as coisas mudam.
A Maratona de Brittany adota um tom real, palpável, realista. Nada de uma grande transformação cheia de brilho, montagem e falsidade. As coisas se desenrolam de maneira surpreendentemente realista. Brittany muda fisicamente... Mas será que era aquilo que ela buscava? Um corpo diferente? E o que isso mudou, de fato, em sua vida? Ela era mais feliz antes? Ou agora sua vida deu um giro completo de 180 graus?
São questões que surgem naturalmente e que emocionam. Colaizzo, apesar das mesmices, sabe dar uma guinada diferente no momento certo. Sabe levar emoção.
E Jillian Bell (Anjos da Lei 2) tem parte nesse processo. A atriz encarna com verdade a personagem e é transformada na frente da tela -- e, de novo, não de maneira falsa e glamourizada. A naturalidade necessária para o papel, que se não existisse colocaria o filme todo a perder, existe aqui. E faz uma diferença enorme no balanço final do longa-metragem, que acaba ficando marcado por essa verdade inerente à história da trama.
Assim, A Maratona de Brittany é um filme com mesmices, clichês e lugares-comuns. Mas uma verdade desconcertante na história, pouco provável de ser vista pelas mãos de um diretor homem, chama a atenção. E assim, no final, acaba fazendo com que o longa-metragem tenha um destaque especial. Não é esquecível. E pessoas com uma história parecida, sem dúvidas alguma, vão se emocionar e se inspirar na vida de Brittany.
(*) Filme assistido durante cobertura especial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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