Ainda que não seja um grande fã do cinema de terror, principalmente esses mais comerciais que parecem só usar jumpscares para conseguir assustar, gosto de ver diretores com inventividade na tela, que se esforçam para nos aterrorizar. E fazia tempo, confesso, que não sentia tanto medo quanto em A Morte do Demônio: A Ascensão, estreia desta quinta, 20.
Dirigido e roteirizado por Lee Cronin (do mediano The Hole in the Ground), o longa-metragem é uma espécie de continuação (ou seria reboot?) da franquia Evil Dead, que fez sucesso absoluto nos anos 1980 e colocou Sam Raimi como um dos melhores diretores do gênero. No entanto, não se empolgue: apesar de referências visuais, o filme não tem nada a ver com os clássicos.
Na nova história, uma jovem (Lily Sullivan) decide voltar para a casa da irmã (Alyssa Sutherland) quando descobre que está grávida. No entanto, ao voltar para o berço familiar, as coisas começam a ir mal: não só a família está passando por uma turbulência, como um dos três filhos descobre um livro maligno que desperta um demônio poderoso que possui Ellie (Alyssa).
É o começo de uma jornada aterrorizante, onde essa tia precisa proteger os três sobrinhos do mal que essa criatura quer causar. Nesse começo, Cronin se vale de vários artifícios que já vimos aos montes por aí: demônio subindo pelas paredes, jumpscare em vários momentos e explicações mitológicas que nem sempre funcionam e podem afastar alguns desavisados.
Só que em determinado momento, especificamente na virada do primeiro para o segundo ato, Cronin se solta e mostra que este não é apenas mais um filme de terror na fila de lançamentos da semana. Logo de cara, há uma cena recheada de sangue toda filmada pela perspectiva de um olho mágico. É de arrepiar: não só é bem feita, como dá a sensação de paralização no público.
Depois, a coisa mais ficando mais e mais sombria. A grande sacada de Cronin, porém, é mexer com vários medos: não só há sustos de pular da cadeira e uma maquiagem muito bem feita na ótima (e aterrorizante Alyssa Sutherland), como também há medos visuais (como um ralador passando na perna de uma pessoa) e outros que dão nojo, principalmente com vômito e insetos.
Com isso tudo, é bem difícil que alguém passe batido pelo filme sem sentir nada, nem uma pontada de medo -- na sessão para a imprensa de A Morte do Demônio: A Ascensão, teve até gente passando mal. O filme vai crescendo e rapidamente se afasta daquele terror banal que estamos acostumados. Fica no meio do caminho entre Invocação do Mal e um Hereditário.
E, no final, Cronin segue por dois caminhos. De um lado, segue algumas cartilhas para justificar o filme em fazer parte da franquia A Morte do Demônio, inserindo elementos visuais que remetem ao clássico. Do outro, abraça um visual a la David Cronenberg, com sangue e criaturas bizarras, para mostrar que, apesar do tom comercial desse final, continua abraçando o terror.
É um resultado mais do que satisfatório. Saí da sessão morrendo de medo -- tenho calafrios só de ver a foto de Ellie, como aqui no início do texto -- e continuo pensando no filme uma semana depois. A Morte do Demônio: A Ascensão, assim, tem tudo para ser o melhor filme de terror de 2023. É corajoso, é ousado, dá medo e tem uma boa história. Dá pra se divertir muito no cinema.
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