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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Batem à Porta' reflete sobre fé, crença e fim do mundo


O cineasta M. Night Shyamalan é uma pessoa que gosta de tecer comentários. Na primeira década dos anos 2000, falou sobre o medo do desconhecido (Sinais, O Sexto Sentido,), sobre o receio com um possível apocalipse (Fim dos Tempos) e até sobre a crença em alguma criatura exterior (A Dama da Água). Agora, desde a pandemia, Shyamalan se fechou e começou a pensar em temas como envelhecimento (Tempo) e, agora, fé e fim do mundo em Batem à Porta.


Filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 2, o longa-metragem é baseado em um livro de 2018, de Paul Tremblay, e que chegou ao Brasil com o título de O Chalé no Fim do Mundo. Apesar da publicação da história cinco anos atrás, ela não poderia ser mais atual: fala sobre uma família, formada pelos pais Andrew (Ben Aldridge) e Eric (Jonathan Groff) e a filha Wen (Kristen Cui), que estão passando uns dias de férias em um chalé afastado. Toda a tranquilidade some, porém, quando um grupo de estranhos, liderado por Leonard (Dave Bautista), aparece por ali.


Esse grupo diz que eles estão ali com objetivo nobre: impedir o apocalipse. Para isso, porém, a família ali no chalé precisa participar de uma decisão: sacrificar um deles pela sobrevivência do mundo ou assistir ao apocalipse completo. A cada recusa em escolher um dos seus para morrer, porém, sangue é derramado: um dos quatro integrantes dessa espécie de seita é morto, na frente de todo mundo, e uma praga é liberada no mundo. É aí que a coisa fica interessante, com os dois homens tentando compreender o que está acontecendo. É tudo balela? Ou é para valer?

Gravado quase que inteiramente em um único cenário (o chalé, no caso), o filme é uma história de catástrofe do fim do mundo minimalista. Esqueça, por alguns instantes, o caos histriônico de Roland Emmerich (Independence Day), por exemplo. A história aqui contada, assim como aconteceu no mundo todo durante a pandemia do novo coronavírus, acontece em um ambiente fechado, único, enclausurado. Os personagens sabem do final do mundo (ou seria um hipotético apocalipse?) pela televisão, pela janela de casa. Ele nunca chega perto como uma ameaça.


É, assim, um retrato bem diferente do final do mundo, da vida, da humanidade. Shyamalan, nesse retrato, se retrai, se encolhe e, assim, leva o medo do fim de uma forma bem distinta.


Mas, mais do que ser um filme sobre fim do mundo, Batem à Porta consegue trazer o que há de melhor no livro de Tremblay: reflexão metafísica sobre fé, existência e sociedade. Shyamalan pinça essa história, assim como pinçou os quadrinhos de ‘Tempo’, como uma forma de comentar sobre o que nossa sociedade se tornou. Uns contra os outros, sem acreditar exatamente no que os outros dizem — tampouco em algo que nos mova. É uma provocação de Shyamalan, que nos leva a pensar sobre nossa existência e, quem sabe, o significado de estarmos aqui, vivos.


Ainda que tenha boas reflexões, vale ressaltar que Batem à Porta’ tem lá seus problemas de execução. Ainda que Shyamalan consiga produzir tensão com minimalismo, algo dificílimo, há algumas coisas que escapam. Muitos momentos simplesmente apostam em uma repetição de ideias (o primeiro sacrifício, por exemplo, é impactante, mas logo se torna redundante) e o final, como já é de praxe nos filmes do cineasta, vai provocar emoção — alguns vão adorar, outros vão detestar. Dificilmente alguém vai ficar no meio do caminho, sem tomar um verdadeiro partido.

 

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