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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Bird Box Barcelona', da Netflix, melhora a franquia, mas ainda é mediano


Lembro como se fosse ontem quando assisti ao primeiro Bird Box durante uma exibição especial na CCXP, importante evento de cultura pop aqui no Brasil. Sandra Bullock estava lá, mais de mil pessoas no auditório, telão e som de qualidade. Mas, mesmo assim, saí da sessão horrorizado: apesar das boas qualidades do livro de Josh Malerman, o longa-metragem é apático, frio, sem graça. Não consegue ter emoção. Algumas coisas que Bird Box Barcelona sabe contornar.


Estreia da Netflix nesta sexta-feira, 14, o longa-metragem não é um remake, nem exatamente uma continuação do filme de 2018. É, na verdade, uma história que se passa no mesmo universo, no mesmo momento. Ou seja, lá fora, tudo é igual: há uma criatura espreitando as pessoas. Quem vê o monstro, automaticamente comete suicídio. E é nesse cenário que temos dois personagens, pai e filha. Ele é Sebastián (Mario Casas), ela é Anna (Alejandra Howard).


E é aqui, tão cedo, que paro de dar informações sobre a trama do novo Bird Box Barcelona. Afinal, o longa-metragem dirigido pelos irmãos Pastor (do competente thriller A Casa, também da Netflix) encaixa um plot twist logo no início da trama, com menos de 20 minutos de projeção. Entregar mais informações, assim, seria entregar de bandeja essa reviravolta bem sacada.


Logo de cara, entregando essa reviravolta inesperada e uma cena de ação intensa envolvendo os primeiros sinais da calamidade que começa a atingir o mundo todo, Bird Box Barcelona deixa o público interessado na narrativa e, acima de tudo, imerso nesse cenário distópico de Barcelona. Ainda que a gente já conheça os meandros desse mundo em que ninguém pode tirar a venda dos olhos, ficamos interessados em saber os efeitos do caos na cidade espanhola.

Afinal, ao invés de cair na tentação de contar uma história exageradamente parecida com a do filme de 2008, o roteiro dos Pastor busca expandir habilidades e diferentes personalidades dentro dessa crise. O personagem vivido por Mario Casas (O Bar, Não Matarás) traz um elemento surpreendente para dentro desse universo, ampliando as possibilidades. É curioso ver como os Pastor não demonstram medo em criar os próprios caminhos do mundo de Malerman.


Na primeira meia hora, há personalidade e um bom uso da câmera. Lembra bastante aquela sequência de Um Lugar Silencioso: Parte II, quando vemos a família dos personagens de John Krasinski e Emily Blunt tentando sobreviver aos ataques dos monstros que invadem o planeta — estes, no caso, que atacam por conta do som e não pelo contato visual. Ninguém pode dizer que os diretores de Bird Box Barcelona não ousaram ou que ficaram atrás da mesmice.


Vamos imaginar que Bird Box é uma panela de feijão. Foi preparado do jeito certo, na pressão e com caldo, mas sem qualquer tempero. Parece comida de hospital: é insosso, sem vida e sem graça. Bird Box Barcelona tinha tudo para ser um outro preparo de feijão, em outra panela, com tempero. Mas não: conforme o filme avança, e o impacto dos 30 ou 40 primeiros minutos se esvai, fica evidente que o longa vem da mesma panela. Só colocaram uma pitada de sal.


Afinal, depois que acontece a reviravolta e a boa cena mostrando o primeiro impacto dessa catástrofe na vida dos personagens, Bird Box Barcelona fica igual aos personagens andando na rua com vendas: sem rumo. Tenta encontrar um pouco de coração na história da jovem Sofia (Naila Schuberth) e do grupo que a acompanha (Diego Calva, Georgina Campbell), mas nunca empolga de verdade. Não chega perto de outras distopias, como Um Lugar Silencioso.


Bird Box Barcelona é uma boa tentativa de corrigir o rumo da franquia, colocando a história na mão de dois cineastas com uma pegada mais autoral e que sabem como colocar tensão na tela. No entanto, é preciso ainda mexer muito nas estruturas desse universo para que um provável e futuro Bird Box 2 agrade por inteiro e não apenas em partes. Que a gente, como público, tenha vontade de tirar a venda e, enfim, encontrar uma história que faça jus ao bom livro.

 

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