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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Charuto de Mel' é potente, ainda que inchado "coming of age"


Kamir Aïnouz é argelina, cineasta e, como o sobrenome já acusa, irmã de Karim Aïnouz, diretor responsável por filmes como A Vida Invisível e Madame Satã. Agora, Kamir faz sua estreia nos cinemas brasileiros com o surpreendente longa-metragem Charuto de Mel, estreia dos cinemas nesta quinta-feira, 11, um filme típico de coming of age com mais camadas do que o esperado.


A trama acompanha Selma (Zoé Adjani), uma jovem argelina que vive com os pais na França dos anos 1990. Ela está em um momento de sua adolescência que quer viver as experiências da idade ao máximo. Quer sentir desejo e ser desejada. Quer amar e ser amada. Quem sabe, é claro, também sofrer alguma desilusão amorosa — e, no final das contas, também causar uma.


No entanto, esses desejos, sentimentos e emoções esbarram, justamente, no tradicionalismo de sua família. Pais argelinos, eles se ancoram em certas tradições que não batem com o que Selma quer viver. Ela quer ser livre, quer experimentar, enquanto os pais querem que ela seja uma verdadeira mulher da tradição: case com algum homem honrado, tenha filhos, seja correta.

É nesse embate que Charuto de Mel se movimenta. Kamir, que é de família argelina, sabe como conduzir a trama de maneira natural. Ainda que esses embates entre filhos crescendo e pais que não conseguem lidar já tenham sido vistos das mais diferentes formas no cinema, aqui há esse verniz cultural e temporal a diretora, fruto de uma geração, consegue inserir muito bem.


Zoé Adjani, um acontecimento na tela, auxilia o processo de tornar a história mais natural. Sua personagem transita entre os dois mundos (o externo, em que pode ser ela mesma, e o de dentro de casa) com força e verdade. Há também momentos de violência contra sua personagem que, por conta dessa atuação sensível, se tornam comentários potentes na tela.


Uma pena, porém, que Charuto de Mel tenha a sina de filmes estreantes: não se contém. Kamir, na ânsia de contar a história escrita por ela e por Marc Syrigas, traz elementos demais: é a desilusão amorosa de Selma, é a paixão repentina, são as novas amizades, a relação com o pai, o afastamento da mãe, um abuso. São coisas demais na história, deixando-a inchada, pesada.


Faltou à Karim o dom da concisão neste longa-metragem. Mas tudo bem, é seu primeiro. O fato é que Charuto de Mel é daquelas surpresas boas que revelam ao mundo uma cineasta do porte de Karim Aïnouz. Que venham mais filmes por aí, com personagens tão ou mais encantadores como Selma, para que possamos conhecer a realidade de outros países, culturas e famílias.

 

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