Uma jovem editora (Alice Isaaz) descobre, na cidade de seu pai, uma biblioteca que armazena originais de livros recusados por editoras. No meio de vários títulos duvidosos, ela acaba encontrando o exemplar de uma obra assinada por Henri Pick, o falecido pizzaiolo da região. O livro acaba sendo publicado e se torna um sucesso absoluto de público e crítica. Tanto sucesso que leva um famoso jornalista literário, Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini), a questionar o verdadeiro autor do romance.
Esta é a trama do suspense francês O Mistério de Henri Pick. Dirigido por Rémi Bezançon, o filme não se deixa levar unicamente pelas convenções do mistério. Há, ali, o enigma a ser resolvido, que insere o espectador dentro da história que está sendo contada. No entanto, elementos da comédia e do drama típicos da França também são incluídos nessa receita. O resultado é algo agradável, bem dosado e que deve agradar vários públicos. Afinal, dá pra rir, se emocionar e ficar instigado pelo suspense geral.
Isso é mérito de Bezançon (Zarafa) com sua parceria de roteiro, Vanessa Portal (Nosso Futuro). A mistura de gêneros faz com que o filme não se torne cansativo ao perseguir um único mistério. As emoções, que vão entrando em uma confluência única, fazem os 100 minutos da trama fluírem de maneira leve e agradável. Não pesa nunca no filme.
Além disso, há uma reflexão sobre o mercado literário que vai surgindo aos poucos, pelas beiras, e crescendo enormemente. E é muito acertada! Faz com que o espectador olhe para a situação do autor de um livro com outros olhos, como fez o excelente A Esposa, que colocou Glenn Close no páreo do Oscar de Melhor Atriz em 2019. É algo que traz um elemento a mais pro filme e não faz com que seja apenas um entretenimento.
O elenco, claro, também está afinado. Fabrice Luchini (Dentro da Casa) acerta, como sempre, ao misturar uma interessante dualidade ao seu personagem. Há a obsessão dele em perseguir o mistério do real autor do livro, mas há também uma tragédia inerente aos objetivos de sua história -- tudo orientado por conta de uma das primeiras cenas, bem feita e constrangedora na medida certa. Ele, sem dúvidas, é completo.
Um dos poucos problemas no filme se concentra, porém, na relação entre o personagem de Luchini com a de Camille Cottin (Aliados), intérprete da filha de Henri Pick. A relação entre os duas é estranha e não é explicada. Há uma tensão sexual, junto com uma desconfiança mútua entre os dois, que nunca se resolve, nunca faz sentido dentro do que é proposto. Difícil entender o que Bezançon quis fazer com Cottin, uma ótima atriz.
A solução do mistério, por mais que não seja o grande foco do filme, também dá pra ser resolvido bem antes da resolução final. Uma cena em específica coloca uma luz muito forte sobre a trama que está sendo contada e o mistério pode ser rapidamente resolvido pela audiência. Seria muito mais interessante haver uma real surpresa ao final. Afinal, por mais que haja a comédia e o drama caminhando lado a lado, o suspense é foco aqui.
O Mistério de Henri Pick é um filme divertido, que passa rapidamente e, até certo ponto, funciona. No entanto, a falta da surpresa fatal ao final e algumas coisas pouco explicadas fazem com que a produção não se torne realmente memorável. É gostosa de assistir, pra passar o tempo, e se divertir bastante com a história contada por Bezançon. Quer rir, se entreter e encarar um mistério? É o filme ideal pra você. O que pode enriquecer mais a experiência é a discussão literária. Quem mergulhar nisso, vai além.
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