A franquia Rocky é cheia de altos e baixos. O primeiro é um clássico do cinema, com uma história cheia de emoção, verdade e momentos marcantes. Assim como o último, extremamente sensível. Os outros quatro filmes, que ligam essas duas grandes produções, são instáveis: Rocky II é cheio de fórmulas, o terceiro é o pior de toda a saga, o quarto tem a história mais fraca e o quinto filme é uma piada -- de mau gosto. Foi impossível, então, não ver o ressurgimento da franquia com Creed com certa dúvida do que poderia vir a acontecer. Mas agora, com dois ótimos filmes, só há certezas por ali.
O primeiro Creed traça a vida de Adônis Creed (Michael B. Jordan), filho do grande lutador de boxe Apolo Creed e, ao contrário do esperava a madrasta, acaba seguindo a profissão do pai. Nessa nova vida nos ringues, ele acaba conquistando o lutador aposentado Rocky Balboa (Sylvester Stallone) como seu treinador e ainda engata um romance com a cantora Bianca (Tessa Thompson). É quase uma reprise do primeiro Rocky. Agora, a franquia se consolida em Creed II ao aprofundar ainda mais a personalidade de Adônis e todos seus vínculos familiares ao redor da lona do ringue.
Apesar de todo elenco estar de volta, há uma significativa baixa por trás das câmeras: Ryan Coogler, que dirigiu o primeiro longa e agora está ocupado com Pantera Negra, assina apenas como produtor. Quem assume a batuta da direção é Steven Caple Jr. (do bom The Land), que possui um estilo bem diferente. Enquanto Coogler se exibia com a câmera, fazendo planos-sequência impressionantes e cenas de luta memoráveis, Caple Jr. aposta no "arroz com feijão" para as cenas de luta, conversas, dramas. O mais ousado acontece apenas durante as sequências de treino de Adônis Creed num deserto.
Isso, de certa maneira, acaba tirando um pouco do brilho geral do filme, que impressionou no primeiro volume por conta de seu apuro técnico. No entanto, é possível compensar em algumas outras coisas. O rival de Creed nos ringues, dessa vez, não é qualquer pessoa esquecível. É o gigantesco Viktor Drago (Florian Munteanu), filho do clássico vilão Ivan Drago (Dolph Lundgren). Ele tem muito mais presença de cena, apesar de ser um péssimo ator, e ajuda aos fãs da franquia clássica a sentirem certa emoção. É maravilhoso ver Stallone e Lundgren em cima de um ringue, juntos.
A trama aqui, escrita pelo estreante Juel Taylor e pelo próprio Stallone, esquece de algumas coisas que foram contadas no primeiro Creed -- como, por exemplo, o câncer de Rocky Balboa -- para valorizar aspectos mais familiares da vida de Adônis. É um filme que tem uma fórmula já conhecida, sem grandes surpresas no meio do caminho, mas que ajuda a aprofundar algumas coisas interessantes. Adônis, aliás, está bem mais aprofundado e interessante. Mérito também da atuação de B. Jordan (Pantera Negra), que soube entrar no personagem como poucos. É um dos grandes de sua geração.
Stallone também está bem, mas não possui uma atuação que se equipara ao que foi visto em Creed -- faltam arcos mais dramáticos para o ator, que pode ter sua redenção no próximo filme. Tessa Thompson (Thor: Ragnarok) também parece ter menos material para trabalhar, mas possui uma ou duas cenas de impacto. Phylicia Rashad está bem em cena no pouco que aparece, assim como Russell Hornsby. Lundgren é... Lundgren. Sem grandes momentos, grandes surpresas. Só o péssimo Florian Munteanu, que é lutador de MMA e tenta carreira do cinema, que impressiona de tão ruim que é. Não vai.
Ao final, mesmo com a direção burocrática de Caple Jr., é difícil não se emocionar com a luta, que insere uma música incidental com a trilha sonora original de Rocky e cria um clima que faz com que as pessoas torçam pelo que se desenrola no ringue. Difícil não torcer junto, vibrar, se emocionar. E assim, Creed II ajuda a consolidar essa nova franquia num caminho muito positivo e surpreendente. Fãs de Rocky e de filmes sobre luta devem se emocionar um tiquinho mais do que os outros, que também devem embarcar na vibe do longa, mas sem deixar a emoção tomar tanta conta. Ótimo filme.
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