Crítica: 'Desconhecidos' é mistura pretensiosa de Tarantino com A24
- Matheus Mans
- 31 de mar.
- 2 min de leitura

Bem no início de Desconhecidos, uma mensagem inusitada toma conta da tela. Diretor e roteirista do filme, JT Mollner (de Criminosos e Anjos) decide avisar ao público que o longa a seguir foi todo rodado com película. Ok. E daí? Péssimo sinal: ao celebrar sua própria decisão de linguagem e estética, Mollner parece esperar aplausos antes mesmo do filme começar.
E é exatamente esse sentimento que persegue toda a história. Estreia desta quinta-feira, 3, o filme é uma obra mergulhada em pretensões do cineasta e de sua produtora, a Miramax. Desconhecidos se comporta como se fosse uma mistura de Quentin Tarantino com a estética e as histórias da A24 -- sendo que não é um, nem outro. É apenas uma ideia vazia de história.
Mas vamos lá, por partes. O filme começa com uma mulher (Willa Fitzgerald) correndo desesperada de um homem armado (Kyle Gallner). Rapidamente, entendemos que existe ali envolvendo sangue, sobrevivência e serial killer numa perseguição dividida em seis capítulos.
No entanto, continuando em sua jornada pretensiosa, JT Mollner não conta essa história de forma linear. Ao quebrar a trama em seis capítulos, ele narra a trajetória com idas e vindas -- a trama começa no capítulo 5, vai pro 1, depois pro 3 e por aí vai. Te lembra alguém? Pois é: o diretor americano se sente Tarantino o tempo todo, emulando de Cães de Aluguel à Pulp Fiction.
Bobagem, enfim. Nessa ânsia em ser outro cineasta e transformar Desconhecidos no filme que não é, Mollner esquece um pouco de criar seu próprio estilo. Tudo soa ou vazio ou repetitivo, sem nunca abraçar uma personalidade própria. Tudo bem: a reviravolta do filme é bem bolada e surpreende de verdade. Mas para chegar até lá, o longa-metragem se permite pasteurizar.
Foram vários os momentos em que é impossível segurar o revirar de olhos. É uma explosão de pretensões, de ideias batidas, de tentativas vazias de ser aquilo que o filme, de fato, não é.
Além disso tudo, Desconhecidos faz algo complicado -- e cuidado, este parágrafo pode dar dicas da história e ser considerado spoiler por alguns. Todas as mulheres do filme, todas, são violentas, incompetentes ou burras. Nem dá para dizer que Mollner percebeu isso (devia estar mais preocupado em fingir ser Tarantino), mas é difícil o espectador fugir do sentimento ruim.
Os homens são capazes, fortes, resistentes, valentes. As mulheres estão fazendo tudo de errado -- só ver as decisões que uma policial toma ali no ato final, tratada como uma "coração mole".
Desconhecidos é, assim, uma das maiores bobagens do cinema em 2025. Pretensioso e desatento com seu próprio discurso, o longa-metragem é equivocado e nunca desenvolve uma linguagem própria. Pode até impressionar em um primeiro momento, mas dificilmente passa de uma observação mais crítica e atenta. É frágil, afinal, e um filme para ser apenas esquecido.


Não concordo com sua crítica de que todas as mulheres do filme são burras, pois no final quem acaba com um serial killer é uma mulher, esqueceu?