O começo de Dora e Gabriel, longa-metragem comandado por Ugo Giorgetti (Uma Noite em Sampa) e que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 23, é excelente. Mostra um homem (Ary França) sendo colocado em um porta-malas. Um sequestro. Uma mulher (Natalia Gonsales) que está passando por ali é pega como refém também. Dora e Gabriel, presos em um porta-malas.
O filme, que se passa quase que exclusivamente no ambiente do tal porta-malas, é inventivo. Giorgetti segura toda a história a partir da interação desses dois. Logo de cara, sabemos pouco sobre eles. Ela tem asma nervosa, é falante, preocupada. Ele está mais tranquilo, é libanês, tenta acalmar essa mulher que parece ter entrado de supetão dentro desse seu universo crítico.
Logo de cara, a interação dos dois funciona bem. É excelente ver França (Durval Discos) em cena, colocando verdade nesse personagem libanês. Do outro lado, Gonsales até que funciona bem nesse exagero desesperador de sua personagem, mas não dá para negar que há certa falta de naturalidade em muitos momentos. Infelizmente, faltou direção na criação de Dora.
Tudo vai bem até que começamos a perceber derrapadas na condução da história que vão minando o interesse do público. Primeiramente, algumas opções que não funcionam dentro da naturalidade que a história exige: o menino estranho dentro do carro, a farinha (que cena mais aleatória!) e algumas outras coisas. O filme, com essas tentativas, se perde em tentativas.
Além disso, o andamento da história é insosso: falta ritmo, falta uma câmera mais esperta. Ainda bem que o filme é curto, menos de 1h30, o que acaba mascarando esse problema.
No final, porém, há de se destacar que Giorgetti trouxe uma boa metáfora, inclusive, para essa situação que vivemos hoje -- de confinamento, em que temos que encarar um ao outro. Dora e Gabriel mostra, simplesmente, duas pessoas em embate constante precisando viver em um espaço minúsculo, enfrentando seus preconceitos, seus dilemas, seus problemas, seus medos.
Oras, não é exatamente pelo que estamos passando hoje em dia como sociedade? É uma metáfora mais do que acertada, ainda mais com o final cheio de melancolia. Uma pena que a execução seja tão pouco natural, tão pouco fluída. Se houvesse mais ritmo e mais cuidado em detalhes que estragam o todo, Dora e Gabriel tinha potencial de ser mais. Muito mais.
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