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Crítica: 'F1' aposta em impacto visual e ação eletrizante, mas tropeça na trama genérica

  • Foto do escritor: Matheus Mans
    Matheus Mans
  • 23 de jun.
  • 2 min de leitura

Sonny Hayes (Brad Pitt) já foi uma lenda da Fórmula 1. Viveu a glória, enfrentou quedas e, após um acidente grave, abandonou as pistas para ganhar a vida em corridas menores, sem glamour, dormindo no próprio carro e levando uma existência nômade. Até que um antigo amigo (Javier Bardem) o convida para um retorno improvável: assumir o volante novamente aos cinquenta e poucos anos para tentar salvar uma escuderia à beira da falência. Assim começa F1, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 26.


Joseph Kosinski, o mesmo diretor de Top Gun: Maverick, deixa claro o propósito desde a largada: mais do que contar uma boa história, o filme quer fazer o espectador sentir cada curva, cada frenagem. A campanha publicitária abraçou esse conceito com entusiasmo, incluindo um trailer “tátil” para iPhones, que permite ao público literalmente sentir as vibrações dos motores na palma da mão.


Essa imersão total é levada às últimas consequências no longa. Kosinski colocou câmeras especiais dentro dos carros, filmou durante etapas reais da Fórmula 1 e ergueu uma garagem cenográfica da fictícia equipe APXGP no paddock, lado a lado com as gigantes Ferrari e Mercedes. Brad Pitt e Damson Idris (que interpreta Joshua, o jovem talento da equipe) passaram meses treinando com monopostos de Fórmula 3 e Fórmula 2, pilotando eles próprios nas filmagens.


O toque final vem de Lewis Hamilton, sete vezes campeão mundial, que atuou como produtor e consultor técnico. Ele garantiu autenticidade nos mínimos detalhes e orientou os atores no manuseio real dos carros — um diferencial que faz diferença na tela.

De fato, as cenas de corrida são o ponto alto absoluto de F1. A adrenalina toma conta sempre que as luzes se apagam e os motores disparam, com Joshua impetuoso e Sonny traçando estratégias arriscadas enquanto o chefe da equipe surta no rádio. É um espetáculo visual de primeira, com ritmo insano, imagens vertiginosas e tensão contínua. Um registro vibrante da emoção das pistas, digno de dividir espaço com clássicos como Rush: No Limite da Emoção e Grand Prix.


Mas nem tudo acelera nesse filme.


Quando o assunto é o enredo, F1 derrapa feio. O roteiro, escrito por Kosinski e Ehren Kruger (de Top Gun: Maverick, O Chamado e Dumbo), recicla a velha fórmula do veterano em busca de redenção — a mesma vista em Rocky Balboa, Logan, O Último Desafio, entre tantos outros. É uma narrativa tão exaurida que não sustenta a força visual revolucionária do filme. Enquanto as imagens parecem vir do futuro, a trama estacionou no passado.


O resultado é um Top Gun: Maverick sem alma. Falta verdade emocional, aquele impulso genuíno de empolgar. Brad Pitt parece distante do papel, e Damson Idris acaba ganhando mais destaque. O filme vira um espetáculo técnico impressionante, mas vazio — como uma montanha-russa linda, porém sem história para contar.


Vale a pena assistir? Para sentir a adrenalina das corridas como nunca antes no cinema, sim. É uma experiência audiovisual única, que justifica a ida à sala escura. Mas fica a pergunta: será que cinema é só isso? Se filmes como F1 se tornarem regra, corremos o risco de transformar a sétima arte num gigantesco videogame, onde a forma supera o conteúdo. E o cinema merece mais.


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