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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Fiéis', da Netflix, acerta em suspense insigante sobre traição


Bodil (Bracha van Doesburgh) e Isabel (Elise Schaap) são duas amigas, já na casa dos 40 anos, que decidem fazer uma viagem juntas para a Bélgica. Seria Fiéis, estreia da Netflix desta quarta-feira, 17, uma comédia leve e despretensiosa como Quatro Amigas e um Jeans Viajante, Viagem das Garotas ou até Do Jeito que Elas Querem 2? Nada disso: a dupla se separa logo que chegam de viagem. As duas, cada uma do seu jeito, parte para o fim de semana de traição e infidelidade.


Bodil, por exemplo, tem um romance proibido com um palestrante, escritor e coach que faz sucesso por ali -- os maridos das duas, inclusive, pensam que foram para lá para um evento com esse rapaz. É algo mais "contido". Já Isabel, que é casada com um escritor depressivo, aproveita a noite belga: sai em baladas liberais em busca de alguém. E é nessa busca de a mulher aparece morta em casa, com o pescoço cortado. E aí começa a trama de Fiéis.


Longa-metragem dirigido por André van Duren (de A Fúria e A Gangue de Oss), Fiéis tem um objetivo claro: investigar os efeitos da morte e das traições na vida das pessoas que optam (ou precisam?) seguir por esse caminho. Isso fica claro desde o primeiro frame do filme, quando Duren coloca uma frase célebre de George Bernard Shaw para provocar a audiência: "o castigo do mentiroso não é o fato de ninguém acreditar nele, mas sim dele não acreditar em ninguém".

Por esse lado, pensando na abordagem da traição e da mentira, van Duren trata tudo com um certo conservadorismo -- não que a traição tenha que ser algo visto como positivo, obviamente, mas até pela forma que a trama condena as duas personagens logo de cara. Demora, mais do que deveria, para dar o contexto dessas duas personagens nesse ambiente. Algo, aliás, que acontece com bastante frequência no ambiente machista e patriarcal do cinema mundial.


O que mais chama a atenção aqui, e que funciona com tranquilidade, é a investigação envolvendo o assassinato de Isabel. Com os maridos entrando em cena, Duren, que assina o roteiro ao lado de Elisabeth Lodeizen e Paul Jan Nelissen, traz elementos do suspense para sustentar a narrativa. A realidade vai se abatendo na vida de Bodil, que parece presa em uma trama de acusações e decisões erradas pelo caminho. A situação logo se torna desesperadora.


Van Doesburgh tem uma atuação contida como a protagonista -- me lembrou, em vários momentos, a atuação de Carice van Houten no ótimo thriller sexual Instinto. É uma atuação que demora a se conectar com a audiência, principalmente pela maneira fria que a personagem lida com várias situações, mas que logo vai revelando cada vez mais humanidade em seus sentimentos. Parece uma atuação fácil, mas guarda algumas boas complexidades.


E o final é satisfatório: ainda que seja um tanto quanto decifrável, sendo possível matar tudo o que aconteceu quando ainda estão faltando uns 30 minutos para o longa-metragem acabar, Fiéis consegue manter o público preso na trama sobre traições, mentiras e assassinatos. Perto de muita coisa ruim que a Netflix está entregando nos últimos tempos, ver um suspense interessante, mesmo com suas falhas básicas de roteiro e condução, é no mínimo gratificante.

 

1 comentário

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1 comentário


Lin de Varga
Lin de Varga
19 de mai. de 2023

Varias reviravoltas não são sinônimo de bom roteiro. Diga-o "Fiéis", cuja história é um amontoado de novas situações...risíveis, eu diria. Não funciona. Lembram-se de Hitchcock?

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