Que tema complicado é a história da crise que atingiu a Grécia, num efeito dominó do crash dos Estados Unidos em 2008. É bem mais intrincado do que a própria crise americana, já que envolve uma politicagem de bastidores que nunca ficou muito clara. Agora, o que o cineasta grego Costa-Gavras (O Capital) faz em Jogo do Poder é colocar luz nesse tema nos cinemas.
Inspirada no livro escrito pelo então Ministro das Finanças da época, Yanis Varoufakis, a produção mostra os bastidores justamente das negociações e tratativas do político para tentar resolver a questão da dívida da Grécia -- enquanto, sendo governo de esquerda, se preocupa com o bem estar das pessoas e dá indícios de que não tem intenção de "compensar no povo".
Para contar essa história, Costa-Gavras vai no sentindo contrário de Adam McKay (que aposta num roteiro mais descontraído para tratar desses temas densos, como em A Grande Aposta). Ele se vale de um roteiro mais linear e correto, com pequenas pinceladas didáticas para situar o público, mas sem nunca investir numa plasticidade exagerada como no caso do estadunidense.
É interessante, sobretudo, observar como o roteiro vai se desenhando para colocar o público como mosquinhas dentro das reuniões e tratativas que aconteceram naquela época. Novamente, não é simples, nem rápido de compreender. É preciso sentir, ir tateando. Mas Costa-Gavras, como já mostrou em Z ou O Capital, vai dando as ferramentas para o público desvendar a trama.
Uma pena, porém, que o cineasta não encaixe o tom que vimos em seus outros filmes, seja o tom de thriller político ou até mesmo uma espécie de comédia de situações -- seria interessante ficcionalizar um pouco mais o personagem de Yanis, se transformando num protagonista de O Processo, de Kafka. Resolveu, porém, jogar no seguro, com uma trama linear e um pouco óbvia.
Ainda assim, porém, Costa-Gavras imprime uma direção de gala em Jogo do Poder. É bonito vê-lo filmando cada detalhe da coisa se desenrolando e como o monstro vai saindo de controle, com surpresas a cada esquina e a cada virada. A cena final, coreografada como um balé, é o toque do diretor grego, se colocando dentro da história com a personalidade e intelectualidade.
Não é, definitivamente, o melhor filme de Costa-Gavras. Longe disso. Z dá um banho, por exemplo. Mas é um filme interessante, com um tema espinhoso que chega aos espectadores da maneira mais mastigada possível. Para quem gosta de estudar e conhecer mais sobre política e economia, é um prato cheio. Poderia ser melhor? Com certeza. Mas ainda é um bom filme.
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