Na primeira cena de Lamaçal, o cineasta e roteirista Franco Verdoia coloca porcos na tela. Eles fazem barulho, comem, se esbaldam. A todo momento, a câmera do cineasta argentino busca transformar aquelas criaturas no chiqueiro em algo um tanto quanto repugnante — e faz isso por meio dos sons, da forma que mostra os porcos. Logo depois, corte. O filme começa. A partir daí, acompanhamos uma família (Esteban Meloni, Rodrigo Silveira, Raquel Karro) em viagem.
Eles estão passeando pelo interior da Argentina, aparentemente sem um rumo realmente definido. Até que resolvem parar em um hotel-fazenda e, lá, o protagonista Pablo (Meloni) fica de frente com um casal (Gladys Florimonte e Gabriel Goity) que o perturba. O personagem imediatamente muda de postura. O que está acontecendo? Quem são aquelas pessoas? Aos poucos, vamos descobrindo mais detalhes. É uma quebra-cabeça criado por Franco Verdoia.
Dessa forma, logo Lamaçal ganha contornos de thriller. Ainda que não haja nenhum momento de suspense realmente impactante ou de tensão exagerada, o clima criado pelo cineasta argentino consegue atravessar a tela e nos alcançar. Lamaçal vai ganhando corpo, mesmo que as aparências continuem as mesmas. As coisas vão sendo destruídas no interior do personagem de Meloni que, apesar de algumas derrapadas na atuação, acompanha o tom.
Uma pena, porém, que Verdoia segure o tal segredo envolvendo o protagonista e o casal por tempo demais. As dicas ficam óbvias na tela e, em momento algum, o cineasta argentino brinca com a imaginação do público — inclusive, é bem problemático usar o tema como reviravolta, mas isso fica para outra conversa. Quando vem a revelação, bem no finalzinho, tudo está claro demais. Faltou habilidade para o cineasta brincar mais com a imaginação do público. Pena.
Ainda assim, porém, Lamaçal é uma boa peça da produção conjunta de Brasil e Argentina. Uma pena, porém, que o filme trate de uma temática tão importante de forma apenas para chocar o público com uma reviravolta que não se justifica. Oras, teria sido um filme muito mais impactante, forte e com significado se tudo fosse tratado com abertura desde o começo. Fora que o final é confuso, atrapalhado. Muitas oportunidades perdidas. Mas, ainda é um bom filme.
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