Crítica: 'Lilo & Stitch' é remake bonitinho para televisão, não para as telonas
- Matheus Mans
- 21 de mai.
- 3 min de leitura

A pergunta inevitável que acompanha cada remake live-action da Disney continua sem resposta convincente: por quê? O que justifica o esforço de produção, o preço do ingresso e, principalmente, a ida ao cinema? A maioria destes projetos – como A Bela e a Fera, Dumbo e o desastroso Branca de Neve – não acrescenta nada significativo aos originais animados. Infelizmente, Lilo & Stitch, que estreia nesta quinta, 22, não consegue escapar desta armadilha.
Nascido para o streaming, forçado para o cinema
É importante contextualizar que este filme não foi originalmente concebido para as telonas. Lilo & Stitch surgiu durante aquela breve fase de entusiasmo da Disney com seu serviço de streaming, quando o estúdio anunciou vários projetos destinados exclusivamente à plataforma digital – como a série sobre Moana, que posteriormente foi redirecionada para se tornar um longa-metragem. Na mesma onda, o remake de Stitch foi planejado inicialmente para o Disney+, mas a empresa reconsiderou a estratégia no meio do caminho e decidiu lançá-lo nos cinemas.
Essa origem como produto para televisão é dolorosamente perceptível ao longo de toda a projeção. Enquanto quase todos os outros remakes live-action da Disney apresentam algum elemento grandioso para justificar sua existência – sejam os efeitos especiais marcantes de Mogli: O Menino Lobo, a interessante mudança de perspectiva em Malévola e Cruella, o distintivo olhar artístico de Tim Burton em Alice no País das Maravilhas, ou mesmo os números musicais elaborados de A Pequena Sereia – Lilo & Stitch carece de qualquer atrativo extraordinário.
Um exercício de economia criativa e financeira
Por mais que o diretor Dean Fleischer Camp tenha demonstrado talento em sua estreia com Marcel, a Concha de Sapatos, ele ainda não se estabeleceu como um cineasta de grandes ideias ou visão autoral marcante. O resultado é que este Lilo & Stitch se resume a um exercício de "copia e cola", uma tradução literal da animação para o formato live-action com tecnologia atual.
As poucas diferenças que surgem nesta nova versão parecem motivadas mais por necessidade de economia orçamentária – reflexo de suas origens como produto para streaming – do que por decisões criativas. A incorporação de características de Gantu na personalidade do alienígena Jumba e a escolha de apresentar o próprio Jumba e Pleakley como humanos, não como alienígenas, exemplificam essas alterações economicamente motivadas.
Quanto às mudanças narrativas propriamente ditas, como toda a questão da relação do Stitch com a água, estas não alteram substancialmente a experiência nem justificam a existência do remake. Permanece a sensação frustrante de assistir à mesma história sendo contada duas vezes, sem ganhos significativos na nova versão.
Um toque de conforto nostálgico
O único elemento que proporciona certo conforto, e que pode fazer com que parte do público saia da sessão com um sorriso no rosto, é o tom acolhedor e familiar que percorre a trama. Enquanto a animação nos apresentava Stitch como um alien disfarçado de cachorro, o remake consegue transmitir a sensação de que ele realmente poderia ser um bichinho de estimação.
Esta abordagem confere ao filme um ar de Sessão da Tarde, reminiscente de clássicos como E.T.: O Extraterrestre, provocando momentos de emoção aqui e ali. É, sem dúvida, mais "bonitinho" – mas isso, por si só, justifica um remake dessa magnitude? Justifica o esforço massivo de marketing, com o personagem Stitch sendo inserido em toda oportunidade possível? Definitivamente não.
Beleza insuficiente
O longa recai no erro comum a quase todos os remakes da Disney: não traz novidades significativas e acaba por gerar a sensação – se não imediatamente após a sessão, certamente alguns dias depois – de ser apenas um exercício de exploração comercial sem ambições artísticas.
Pelo menos o elenco se sai bem, com destaque merecido para a pequena Maia Kealoha, cuja interpretação é um dos poucos elementos genuinamente cativantes do filme. E não se pode negar que o visual havaiano é inegavelmente bonito, proporcionando momentos de prazer estético durante a projeção.
De resto, permanecemos com muitas dúvidas e poucas certezas, observando a Disney, mais uma vez, consolidar sua imagem contemporânea como um estúdio aparentemente desprovido de ideias novas para contar. Neste cenário, Lilo & Stitch não passa de mais um exemplo de oportunidade perdida – um filme que poderia ter sido muito mais, mas se contentou em ser apenas bonitinho.


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