Foi em 2019 que o realizador espanhol Rodrigo Sorogoyen foi indicado ao Oscar por seu curta-metragem Madre. De técnica impecável, a produção mostra uma mãe e uma avó que recebem a ligação do neto, de apenas 6 anos. Ele está perdido em uma praia após se separar do pai. A partir daí, começa um plano-sequência de tirar o fôlego, em que mãe e avó tentam dar um jeito de ajudar o garoto. Até que ele esbarra com um homem, a ligação cai e o curta-metragem acaba.
Agora, dois anos depois, esse mesmo curta-metragem começa o longa-metragem homônimo, estreia desta quinta-feira, 25. Novamente dirigido por Sorogoyen, a produção se vale da concorrente ao Oscar para começar a história. No entanto, já na cena seguinte, o roteiro assinado pelo próprio cineasta e por Isabel Peña dá um pulo. 10 anos se passam. Elena (Marta Nieto) tocou sua vida, mas as memórias persistem. O filho, desde aquele momento, sumiu.
A partir daí, com uma estrutura similar ao que vimos em Cicatrizes, Madre vai mostrando como essa personagem reagiu e reage até hoje, uma década sem o pequeno. De olho no desenvolvimento psicológico de Elena, o roteiro de Rodrigo e de Isabel vai trabalhando os traumas, medos, sonhos e receios dessa personagem que passou por uma bruta transformação em questão de apenas alguns minutos. Tudo é muito doloroso, muito compreensível.
O principal ponto positivo do longa-metragem espanhol é, justamente, a atuação de Marta Nieto. Ela está completa aqui, sendo coração e alma de Madre, fazendo com que o espectador mergulhe de cabeça nessa história. A dor e o desespero da personagem, soterrados nesses dez anos de sofrimento ininterrupto, podem ser vistos em cada fala, gesto e olhar. Fica a certeza de que se não fosse uma boa atuação como a de Nieto, o longa-metragem estaria perdido.
Afinal, depois desse começo interessante, Madre se perde completamente. Entra em uma seara sobre obsessão envolvendo o personagem de Jean (Jules Porier) que, apesar de fazer sentido dentro dessa história pregressa, não convence. Há exageros, há artificialidade que nem mesmo a atuação de Nieto salva. Fica evidente que Sorogoyen tinha um bom curta-metragem em mãos, não é à toa que concorreu ao Oscar, mas estava longe, muito longe de ter um bom longa.
Madre é um filme que, apesar do bom começo e da boa atuação da protagonista, não avança e não se recupera jamais. E o final... Talvez seja a pior conclusão de um longa-metragem em 2021, colocando até mesmo o curta-metragem em xeque. É uma pena que Rodrigo Sorogoyen não tenha se contentado em contar sua história ali, naqueles 15 minutos, e focado em outra produção. Do jeito que ficou, este longa-metragem é apenas enrolação, nada mais do que isso.
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