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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Mapa de Sonhos Latino-americanos' faz análise social da AL


Em 1962, o líder da liga camponesa de Sapé (PB), João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem de latifundiários. Um filme sobre sua vida começa a ser rodado em 1964, com direção de Eduardo Coutinho. Mas as filmagens são interrompidas pelo Golpe Militar de 1964. Dezessete anos depois, em 1981, Coutinho retoma o projeto e procura participantes do filme interrompido.


Esta é a ideia por trás de Cabra Marcado para Morrer, um dos principais filmes da obra de Eduardo Coutinho e um dos marcos do cinema brasileiro. Afinal, mais do que retratar a realidade, o cineasta sentiu o peso político, social e antropológico naquela região com algo que não dá para discutir: o tempo. Por isso que Cabra é um filme tão poderoso. É a vida como ela é.


Agora, o cineasta Martin Weber bebe dessa fonte para dirigir o documentário Mapa dos Sonhos Latino-Americanos. Selecionado para o BIFF, o longa-metragem se vale de uma série de fotos, tiradas em toda a América Latina entre os anos de 1990 e 2000, que mostra personagens reais, do dia a dia, segurando pequenas lousas que indicam quais são os seus sonhos a longo prazo.


Assim, a partir disso, Weber vai atrás novamente desses personagens retratados em fotos tiradas pelo próprio Weber. Tenta entender, dez ou vinte anos depois, se aqueles sonhos foram concretizados. Se aquela pessoa, que geralmente vivia em uma realidade desfavorável, encontrou saídas, realizou o seu desejo. Muitas vezes envolvendo dinheiro, algumas até a morte.

Foto de Martin Weber sobre sonhos da AL
Foto de Martin Weber sobre sonhos da AL

Mapa dos Sonhos Latino-Americanos, dessa forma, conta com uma dinamicidade impressionante. Weber fala com várias pessoas, de todos os países da América Latina, e entende suas vidas e suas realidades. Uma panorama social, político e antropológico também é traçado. Dá para entender, com breves relatos, como a política mudou e a sociedade regrediu.


É, de fato, impressionante compreender e absorver alguns dos relatos. Dá força e mostra como o projeto de Weber se revela necessário numa América Latina ainda muito pobre e desolada.


No entanto, a maioria glória de Mapa dos Sonhos Latino-Americanos também é seu maior problema. Com tantos entrevistados, de tantos países, o documentário se torna cansativo. Em determinado momento, as coisas se repetem, os depoimentos se tornam similares demais. Faltou melhor edição. Lá pelos 50 minutos, a tarefa de ficar preso ao filme se torna desafiadora.


Além disso, alguns dos entrevistados simplesmente não estão disponíveis. Alguns sumiram, outros morreram, outros simplesmente não foram encontrados ali, naquele momento. Weber tenta dar um jeito, mas não funciona completamente. Alguns depoimentos ficam vazios e os recursos usados para tentar driblar isso não são o bastante. Há, assim, uma barreira no filme.


Mas, no geral, o longa-metragem é interessante. Promove um olhar atento às mazelas e às dores dos latinos, mostrando como diversas situações simplesmente se transformaram, mas não desapareceram. Se fosse um pouquinho mais afinado e apurado na edição, Mapa dos Sonhos Latino-Americanos seria um acontecimento. Seria um Cabra desta nova década.

 
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