Algo muito bem documentado no pós-Segunda Guerra Mundial é o êxodo de nazistas que se refugiaram na América do Sul para fugir de punições na Europa -- principalmente na Argentina, uma das principais "ratlines" do período. Essa história, que desperta a curiosidade há décadas, ganha um novo capítulo com a dramédia ficcional Meu Vizinho Adolf, estreia desta quinta, 25.
Dirigido por Leon Prudovsky, que também assina o roteiro, o longa-metragem conta a história de Mr. Polsky (David Hayman), um sobrevivente do Holocausto que leva uma vida pacata e solitária na Argentina. No entanto, suas convicções são abaladas quando Mr. Herzog (Udo Kier), um alemão irritadiço e misterioso, se muda para a casa do lado. Polsky acha que ele é Adolf Hitler.
A partir daí, Prudovsky cria um filme de obsessão, com tons de comédia ornamentando a história, em que Polsky tem uma tese e tenta, de qualquer maneira, provar que está correto. O filme até tem os seus momentos divertidos, com o vizinho polonês fazendo de tudo para entrar na casa do provável Hitler e achar provas cabais que façam com que a justiça seja feita.
No entanto, Prudovsky -- um diretor bem inexperiente, com apenas um outro título em seu currículo -- parece ter dificuldade para mesclar os gêneros que nascem com a história. Drama e comédia não se complementam, mas acabam rivalizando na primeira metade da história. Quando é drama, a piada continua a rondar a história. Quando é comédia, demoramos a rir.
Meu Vizinho Adolf! só começa a finalmente encontrar seu tom lá pelos vinte minutos finais, quando há um desenvolvimento mais profundo do Mr. Herzog. É aí que as coisas se encaixam, com o drama ganhando mais espaço em cima de um humor que pode até ser considerado duvidoso. O filme ganha vida e é aí que nos deparamos com uma trama sobre memória.
Os bons momentos chegam, também, com as atuações marcantes de Kier (Bacurau) e Hayman (O Menino do Pijama Listrado). Apesar das limitações evidentes do filme, ambos se entregam e conseguem extrair o máximo de seus personagens. O filme é carregado por Kier, que sabe como construir esse personagem enigmático, cheio de personalidade, que aflora só no finalzinho.
Assim, Meu Vizinho Adolf! é claramente um filme de boas intenções, que tenta tratar um tema absolutamente sério com uma leveza que não lhe é característica. No entanto, quando acha o tom, sabe como conduzir o final da história ao tratar de memória, perdão e, principalmente, como seguir com a vida após traumas irreparáveis. Uma pena o filme não ser todo sobre isso.
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