Crítica: 'Missão: Impossível - O Acerto Final é despedida ambiciosa e imperfeita
- Matheus Mans
- há 27 minutos
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Chega aos cinemas nesta quinta-feira, 22, a ambiciosa tentativa de encerrar uma das franquias mais impactantes do cinema de ação do século XXI. Com quase três horas de duração, Missão: Impossível - O Acerto Final carrega nas costas a hercúlea tarefa de finalizar uma saga que, junto com John Wick e Velozes & Furiosos, redefiniu o gênero e solidificou Tom Cruise no seleto panteão das maiores estrelas de Hollywood.
Novamente sob comando de Christopher McQuarrie – parceiro definitivo de Cruise desde Jack Reacher: O Último Tiro (2012) e responsável pela reviravolta que a franquia experimentou a partir de Nação Secreta – o filme chega com a expectativa elevada por uma questão incontornável: como superar as sequências anteriores e, ao mesmo tempo, amarrar quase três décadas de narrativa de forma satisfatória?
Duas horas de preparação para quarenta minutos finais de espetáculo
Com seus generosos 2h40 de duração, O Acerto Final tem um ritmo curioso. Durante suas duas primeiras horas, o filme prioriza resolver pendências narrativas e homenagear o passado da franquia (incluindo flashbacks quase nostálgicos) para explicar como Ethan Hunt (Cruise), Grace (Hayley Atwell), Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames) chegaram até o momento decisivo.
A opção por um início mais cadenciado e menos frenético pode surpreender negativamente os fãs acostumados com a adrenalina constante da série. Durante a sessão para a imprensa em São Paulo, foi possível ouvir até mesmo alguns bocejos – sintoma de que o filme talvez tenha se esforçado demais em resolver todas as pontas soltas, deixando a ação propriamente dita para o último ato.
Mas é necessário reconhecer que essa abordagem não é essencialmente ruim. Filmes como O Protetor 3, com Denzel Washington, já demonstraram que a tensão pode emergir também do silêncio e dos olhares, não apenas dos socos e chutes. Além disso, McQuarrie e o diretor de fotografia Fraser Taggart imprimem ao filme uma estética que remete aos anos 90, numa clara reverência ao primeiro longa da franquia – inclusive com a adição proposital de granulação em várias cenas.
Quando finalmente decola, a missão se torna impossível de ignorar
Se as duas primeiras horas deixam a impressão de que McQuarrie e o roteirista Erik Jendresen estão apenas preparando o terreno, o último ato recompensa a paciência do espectador. Na narrativa que acompanha Ethan tentando derrotar Gabriel (Esai Morales) – vilão que pretende conquistar o mundo usando uma inteligência artificial capaz de aniquilar a humanidade – vemos um protagonista mais vulnerável e humano.
São particularmente dignas de nota duas sequências encabeçadas por Tom Cruise que certamente deixarão qualquer espectador na ponta da cadeira. Uma delas, envolvendo dois aviões, já entra para a história do cinema de ação. Fica evidente que McQuarrie e Cruise não apenas mantiveram, mas elevaram o padrão de espetáculo da franquia, criando um personagem com falhas e sentimentos mais exacerbados – um contraponto interessante às trajetórias de Dominic Toretto ou John Wick.
O calcanhar de Aquiles: um antagonista frágil
O grande ponto fraco do filme reside no vilão interpretado por Esai Morales. Sua atuação carregada de artificialidade compromete o impacto dramático, e o personagem nunca se estabelece como uma ameaça definitiva. Desde Missão: Impossível - Acerto de Contas: Parte Um, Gabriel divide o protagonismo antagônico com a inteligência artificial que supostamente controla, transformando-se num mero dispositivo narrativo para introduzir a verdadeira ameaça: a tecnologia.
Essa divisão de foco enfraquece ambas as ameaças. Teria sido mais eficaz apostar em apenas um antagonista para esta conclusão, especialmente considerando que o filme anterior já havia estabelecido Gabriel como uma espécie de intermediário. Apesar de haver um subtexto crítico sobre inteligência artificial – possivelmente refletindo preocupações reais de Tom Cruise – a mensagem perde potência pela falta de unidade.
Em uma franquia que já contou com vilões memoráveis como Jim Phelps (Jon Voight), Owen Davian (Philip Seymour Hoffman), Cobalt (Michael Nyqvist), Solomon Lane (Sean Harris) e August Walker (Henry Cavill), a dupla formada por Gabriel e a IA representa um degrau abaixo no quesito antagonismo.
Um encerramento que deixa no ar a pergunta: é realmente o fim?
Quando os créditos sobem ao som do icônico tema musical da franquia, fica a inevitável sensação de frustração. O filme é bom, principalmente graças ao desempenho impressionante de Tom Cruise que, aos 62 anos, continua entregando cenas de ação que superam astros muito mais jovens. Seu lugar no panteão de Hollywood está mais do que garantido – ele se tornou praticamente mítico.
No entanto, O Acerto Final não atinge a excelência esperada para o encerramento de uma franquia tão significativa. É possível afirmar que quase todos os outros filmes da série são superiores – com exceção talvez do terceiro capítulo dirigido por JJ Abrams e do subestimado segundo filme de John Woo. Falta mais impacto, ousadia e, principalmente, uma narrativa mais envolvente.
Missão: Impossível se tornou uma franquia tão monumental que parece impossível finalizá-la de maneira satisfatória em um único filme. A pressão para superar o que veio antes é tão grande que o resultado inevitavelmente deixa a desejar. É um monstro criado quase sem querer e que agora parece indomável.
Diante disso, resta uma pergunta: será que Tom Cruise, consciente de sua importância e notoriamente perfeccionista, realmente encerrará a saga com um capítulo tão irregular? Arrisco dizer que não, e que veremos novos desdobramentos nos próximos anos. Afinal, para Ethan Hunt, nenhuma missão é realmente impossível – nem mesmo dizer adeus.

