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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Nefarious' tem trama interessante prejudicada por seus ideais


Ainda que filmes de exorcismo e de possessão demoníaca sejam essencialmente filmes religiosos, que colocam a Igreja Católica versus um mal que não podemos lidar, nenhum é tão assumidamente religioso como Nefarious. O longa-metragem, que estreou na última quinta-feira, 2, até conta com algumas ideias interessantes em sua história, que traz uma situação de complexidade curiosa, mas acaba se perdendo nas mensagens e ideologias que quer transmitir.


Na história, o dr. James (Jordan Belfi) é chamado para substituir um colega, morto na primeira cena do filme, para fazer a avaliação psiquiátrica de um preso (Sean Patrick Flanery) que foi condenado à morte. Até aí, tudo bem. O problema é que esse preso diz que está possuído por um demônio e que cometeu os crimes pelos quais foi condenado não por livre e espontânea vontade, mas por essa possessão. Algo como foi visto no filme de terror Invocação do Mal 3.


A partir daí, a dupla de diretores Chuck Konzelman (Deus Não Está Morto) e Cary Solomon (do tenebroso 40 Dias: O Milagre da Vida) passa a mostrar esses dois personagens em conversas e embates teológicos, onde o psiquiatra tenta entender o que é verdade e o que é mentira no que o preso está falando. Será que realmente ele é possuído? Será que deve ser considerado incapaz?

Apesar dessa boa ideia, que cria uma situação complexa para ser resolvida, Chuck e Cary ficam insistindo em colocar piscadelas para um público mais conservador o tempo todo, como uma questão envolvendo aborto (trazendo de volta o tema de 40 Dias) e sobre o que significa crença e fé. Sobre a primeira piscadela: não tem absolutamente nada a ver com a história. É colocado ali gratuitamente, até mesmo atrapalhando o mergulho do espectador na história que é contada.


Enquanto isso, a piscadela, que são as conversas sobre fé, crença e a existência de um Deus, são menos agressivas e se misturam bem com a história. Há exageros, mas nada que atrapalhe.


No entanto, isso também não ajuda Nefarious a alcançar todo seu potencial. Enquanto Chuck e Cary ficam procurando meios de propagar a mensagem sem qualquer sutileza, a história vai ficando paulatinamente para trás. O longa-metragem parece se esquecer do embate travado entre os dois protagonistas e acaba se aprofundando em discussões teológicas por tempo demais. Quando tenta tratar das questões psicológicas, apenas arranha a superfície. E olhe lá.


Quando o filme termina (depois de duas cenas constrangedoras de tão ruins e panfletárias), fica a sensação de que Nefarious é uma boa ideia, mas encapsulada em um filme que não sabe bem para qual lado ir. Poderia ser um drama ou um thriller respeitável, mas acaba morrendo na praia como um longa-metragem que tropeça nos próprios calcanhares com mensagens que os cineastas querem espalhar. Faltou sutileza num filme regular que, pena, poderia ser muito bom.

 

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