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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Nheengatu' é filme de boas ideias, mas que derrapa na execução


O longa-metragem Nheengatu tem uma ideia excelente e importantíssima: falar sobre o apagamento dos idiomas indígenas frente ao processo de colonização do Brasil. É uma discussão que passa pela violência social contra esses povos e, principalmente, pelo resgate de uma identidade que se perdeu com a europeização do País e o apagamento da História.


No entanto, o longa-metragem para nas boas ideias. Dirigido pelo português José Barahona (Estive em Lisboa e Lembrei de Você), Nheengatu acompanha a rotina, a vida e a cultura de povos indígenas que falam o idioma que dá título ao longa-metragem -- e a língua que vem da união do tupi com a gramática portuguesa. Quem são essas 6 mil pessoas que ainda resistem?


Para isso, Barahona segue por um caminho complicado. Primeiramente, há de se destacar que ele é um português falando sobre povos indígenas brasileiros. Quer algo mais contraditório do que isso? Por mais que haja esforço do lado do cineasta para que a relação dele com essas pessoas seja a mais sincera e linear possível, há uma pedra nesse caminho. Um incômodo.


Um segundo ponto é que há uma sensação ininterrupta de exploração daquelas pessoas. Tudo bem: estão falando delas, mostrando sua cultura, resgatando uma memória. Só que, no final das contas, o que elas ganham com isso? Como os colonizadores que entregaram espelhinhos em troca de ouro, os indígenas recebem celulares emprestados para fazer gravações para o filme.


Em certo momento de Nheengatu, aliás, há uma fala bem desconcertante em que uma indígena diz que gostaria de ter um celular como esse que o cineasta está usando para gravar seu povo. Só que, diante de sua realidade e da situação socioeconômica de seu povo, percebe-se que este é um desejo difícil de ser alcançado. Há, assim, mais um ponto de distanciamento com o filme.


Por fim, o ponto central de incômodo na história é como a língua, esse bem tão precioso, fica de escanteio em muitos momentos. Ao contrário do documentário Portuñol, por exemplo, o longa-metragem não mergulha na linguística, mas se afasta. Começa a trazer elementos de religião, de crença, que poderiam ser abordados, mas nunca se tornar o ponto central dessa narrativa.


Ficamos com a sensação, enfim, que Nheengatu é um filme que poderia (e deveria!) ser muito mais respeitoso e menos contraditório. Abre margem para interpretações que não são, necessariamente, verdadeiras. E fica aquele gosto agridoce na boca de como as coisas poderiam ter se desenrolado melhor, num registro realmente histórico dessa língua que está sumindo.

 

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