A dupla Claudinho & Buchecha existiu apenas por 10 anos -- começou em bailes funk em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, em 1992, perdurando até a trágica morte de Claudinho, em 2002. Parece pouco tempo, mas não é. A dupla viveu intensamente, colecionou hits de sucesso e, nos anos finais, se consolidou até mesmo no cenário da MPB. E é essa história que é contada no belo, apesar de convencional, filme Nosso Sonho, que estreia nesta quinta-feira, 21 de setembro.
Dirigido por Eduardo Albergaria, o filme segue aquele bê-à-bá que sempre encontramos nas cinebiografias: nascimento, desenvolvimento e morte. Aqui, isso é aplicado à carreira da dupla, mas com um diferencial de que tudo é visto a partir da ótica de Buchecha. Como ele viu a vida?
Essa decisão de Albergaria (de Happy Hour: Verdades e Consequências) empresta personalidade e originalidade ao filme. Claudinho vira uma espécie de entidade que circunda o filme: sabemos pouquíssimo sobre sua família e sobre sua história; nunca o vemos na intimidade ou em sua casa. Ele está sempre ao lado de Buchecha -- que é o protagonista da trama -- e tem uma aura de anjo da guarda. É a maneira que o amigo o via e que Eduardo, espertamente, a reproduz.
Com isso, o brilho de Nosso Sonho ganha intensidade. Por mais que ainda seja um filme quadradão, com a mesma fórmula de sempre, acaba tendo algo a mais que encanta e surpreende. O elenco também ajuda: Juan Paiva (o Buchecha, visto em M8) e Lucas Penteado (Barba, Cabelo e Bigode) brilham como seus personagens. Não tentam imitar os biografados, mas recriam suas próprias verdades. A decisão criativa de Eduardo dá brilho; a dupla dá força.
Isso tudo, além das músicas marcantes e emocionantes que pontuam toda a história, faz com que o filme faça o público chorar. Eu chorei, um amigo ao meu lado chorou. É difícil segurar. Afinal, não só é uma história feliz, mas com final trágico, como também representa um pedaço do Brasil que não existe mais (ou será que existe e está guardado?). A morte de Claudinho é a morte de um ciclo, de uma sociedade, de uma música que parece ter ficado para trás.
Nosso Sonho, dessa forma, emociona, empolga, surpreende. Não é um grande filme -- a trama do pai enfraquece demais pela mesmice, enquanto o formato tradicional dá certa canseira. Mas não importa. No final do dia, a emoção que surge é forte e verdadeira. E nem sempre vemos isso.
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