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Confesso que, nos primeiros minutos de Paraíso, minha atenção foi tragada para a tela da televisão. Em uma história que lembra demais o bom filme O Preço do Amanhã, este longa-metragem alemão da Netflix fala sobre uma sociedade em que tempo é dinheiro -- literalmente e não apenas no sentido figurado. Afinal, pessoas vendem anos (às vezes décadas) de seu tempo para empresas especializadas. Do outro lado, bilionários estão sempre se rejuvenescendo.
É aí que entra a história de Max (Kostja Ullmann), um executivo da principal empresa do segmento que é responsável por comprar tempo de pessoas pobres, que precisam mais daquele dinheiro do que do tempo. Tudo vai bem, principalmente entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik). Até que o apartamento do casal pega fogo e os dois, falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, à força, para o banco. É aí que entra toda a corrida contra o tempo para salvá-la.
A ideia é boa e o plot do filme é realmente interessante -- como dar um jeito de quitar uma dívida paga em anos de vida, sem ter dinheiro à disposição. É uma distopia cruel que, assim como O Preço do Amanhã, faz com que os espectadores tenham mais profundidade na relação entre tempo e dinheiro. Paraíso, com toda a frieza do cinema alemão, nos coloca nessa história, inclusive com alguns requintes de crueldade em cima dos personagens principais da trama.
O problema é quando percebemos o contexto da distopia. De forma insistente, o filme tenta fazer com que o público tenha pena dos dois protagonistas -- é o óbvio, já que para nos conectarmos com a história, o melhor caminho é criar identificação com os personagens. Mas o filme, de forma totalmente míope, mira o foco da história para, afinal, dois burgueses que exploravam os mais prejudicados dessa equação: os pobres, que vendem suas almas para ter algum dinheiro.
Tudo bem que o filme traz todo o aspecto da roda (ou, melhor, moinho) do capitalismo, esmagando todos aqueles que não estão no topo absoluto. É como aquela pessoa de classe média que acha que faz parte do clubinho dos bilionários. Mas, ainda assim, Max era agente da opressão -- em um filme normal, seria aquele personagem que se ferra no final e ficamos felizes por isso. Não tem como ficarmos do lado dele enquanto o povo continua a ser explorado.
Paraíso erra tremendamente o foco de sua história, praticando coitadismo com um tipo de personagem que merece apenas descrença, desconfiança. Ele só é menos pior do que a CEO da Aeon, a empresa que pratica essa compra e revenda de tempo. Este filme da Netflix, enfim, até que tem um objetivo interessante, mas erra na mira. E isso, infelizmente, não tem como perdoar.
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