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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Paternidade', da Netflix, tem boas atuações, mas "mesmice" na história


Antes de tudo, há de se falar: o cinema ainda encara a paternidade solitária como algo extraordinário, fora da curva. Enquanto as mães que criam seus filhos sozinhas são fortes, mas comuns, os pais solitários são pessoas que enfrentam desafios do cotidiano -- como se fosse difícil para um homem entender como é trocar uma fralda ou, ainda, cuidar só de uma criança.


É uma visão essencialmente machista, que ainda enxerga a paternidade como algo fora dos eixos. Por isso, Paternidade já nasce com esse problema. É ultrapassado, afinal: a história de um pai (Kevin Hart) que, após a morte inesperada da esposa no parto, precisa se virar para cuidar da filha. São apenas os dois. Os avós moram em outra cidade, não há irmãos e poucos amigos.


No entanto, apesar desse problema inicial, que já foi visto em filmes como Uma Família de Dois e O Paizão, Paternidade começa rapidamente a contornar essas questões. Primeiramente, Kevin Hart (Jumanji) está surpreendente em cena. Sabe transitar entre o humor e o drama com uma habilidade inesperada: a cena da morte da esposa, por exemplo, é um soco no estômago.

Depois, o cineasta Paul Weitz trabalha bem em cima do roteiro escrito por ele e Dana Stevens (Um Porto Seguro). Sem nunca abraçar o melodrama exagerado, ou um drama pesado demais, o diretor fica no limite entre a comédia e o drama para mostrar o desdobrar dessa história. Não é algo para se emocionar, como Algum Lugar Especial, mas consegue prender bem o público.


Há algumas simplificações exageradas da relação entre pai e filha, como uma questão envolvendo uma saia e uma calça -- é uma questão simplista, pequena. Mostra que o roteiro não sabe se aprofundar em algumas questões como deveria. Fora que apenas reforça a questão inicial. Não lembro de nenhum filme sobre maternidade solitária que aborde essa questão.


Paternidade, assim, é um filme que funciona bem na superfície. Tem momentos simpáticos, uma atuação marcante de Kevin Hart e é difícil não soltar alguns sorrisinhos ao longo da projeção. Mas, no final, fica aquela questão: será que ainda devemos normalizar essas histórias que tratam da paternidade solitária de maneira tão excepcional, como se fosse algo fora da curva?

 
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