A ideia de Pele, longa-metragem de Marcos Pimentel, é excepcional. O filme, que foi selecionado para o É Tudo Verdade 2022, traz imagens de muros ao redor do Brasil. Isso mesmo, muros. Sejam eles ornados com grafites ou com pichações, são muros que dizem mais sobre a sociedade em que vivemos do que esperamos -- falam sobre política, comportamento, reflexões.
Afinal, a partir de traços, frases e desenhos, nós conseguimos entender o que está acontecendo em um país, uma sociedade. Quem faz o grafite, assim como qualquer outro artista, coloca muito de si, de suas dores. Assim, nessa sucessão de imagens ao redor do Brasil, vemos como uma parcela da sociedade pensa, sente, reflete. Até símbolos indecifráveis se tornam atos políticos.
No entanto, Pele não consegue ir além. Pimentel, ainda que faça uma seleção inteligente de imagens e, no final, mostre imagens de destruição e reconstrução -- perpetuando a sensação de continuidade no espaço político e social --, a edição não consegue produzir conteúdo aprofundado. Muitas vezes, pichações e grafites refletem coisas óbvias, ecoando sons da cidade.
Por exemplo: quando aparece um manifesto em apoio à Marielle Franco e um grito de protesto quanto à investigação sobre sua morte que não avança, ouvimos gritos de um protesto que ecoa uma frustração que já está marcada ali naquele muro. Parece que Pimentel tem essa sensação de que precisa ir além, sem quebrar sua estética minimalista, mas não consegue ir fundo.
Com isso, temos 1h10 de um documentário com imagens de muros e ecos de protestos que dizem basicamente a mesma coisa. Não vai além, não encontra novas vozes e fica na superfície.
Seria mais interessante permanecer concentrado nesse minimalismo ou, então, tentando outras formas de abraçar essa profundidade que não existe nessa edição óbvia e sem vida. Pele é, sem dúvidas, um filme de boas ideias, de boas intenções e com uma estética que salta aos olhos. Mas, no fundo, fica a sensação de que poderia ter ido além e, com isso, se tornado brilhante.
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