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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Raia 4' traz retrato interessante sobre dilemas da adolescência


Que boa surpresa é esse longa-metragem de Emiliano Cunha, dos curtas Endotermia e Lobos. Aqui, em Raia 4, o cineasta gaúcho decide se aventurar por um terreno perigoso: contar a história, ao melhor estilo coming of age, de uma típica adolescente. Está conhecendo o próprio corpo, seus limites, a solidão, o desamparo, as amizades. Não tem muito jeito. Está surgindo.


Terreno perigoso, sim. Afinal, Emiliano Cunha nunca foi garota, apesar de ter as vivências de um adolescente, e não sabe quais são os dilemas mais íntimos que essas meninas passam. No entanto, ainda assim, ele conseguiu extrair sensibilidade e fazer o que um bom roteirista e diretor faz: viver aquela história, entender os personagens. Como Bo Burnham em Oitava Série.


Aqui, mais especificamente, entramos na história de Amanda (Brídia Moni), uma garota de 12 anos que está justamente passando por esse processo de puberdade enquanto também enfrenta novas amizades e uma competição de nado. É na piscina, aliás, que ela enfrenta seus maiores fantasmas. O professor, no começo, logo fala que o corpo dela vai começar a mudar.

Parece até um eco de Aos Teus Olhos, filme excelente sobre um professor de natação acusado de abusar das alunas. Mas nada disso. Emiliano segue um correto e sensível caminho de aprofundar a personalidade introvertida daquela personagem. É interessante notar as reações no jogo da verdade ou desafio, a relação silenciosa com os pais, o sofrimento do deslocamento.


Emiliano, afinal, consegue trazer esse sentimento correto sobre a brutalidade da vida aos 12 anos não por expor muitas situações ou investir em concretudes. Ele, na verdade, foca no silêncio para permitir que o espectador, sozinho, compreenda melhor o que Amanda vive. É o olhar assustado, o gesto defensivo, a vontade de se libertar dessas amarras tão complicadas.


No final, fica a sensação que o cineasta escapa um pouco dessa linha que traçou ao abraçar demais a metáfora -- assim como uma cena de um filme de terror que dura mais do que o necessário, parecendo apenas gordura numa história muito justa. Mas tudo bem. No final das contas, Raia 4 é a primeira grande surpresa nacional de 2021 nos cinemas. Vale assistir.

 
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