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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Rambo - Até o Fim' é filme de ação raiz, mas sem emoção


Quando Rambo surgiu, lá nos anos 1980, o mundo vivia uma outra realidade. Os Estados Unidos ainda sentiam os efeitos da Guerra do Vietnã, findada na década de 1970, e soldados americanos sobreviventes tentavam se conciliar com suas vidas e com o País. Foi nesse clima que Rambo: Programado Para Matar chegou aos cinemas. Mostrou, com uma verdade muito espontânea, como essas máquinas de combate se sentiam. E mostrou, principalmente, a hipocrisia de muitos americanos durante esse período.

Depois, porém, a franquia entrou numa vertical de mesmice. Nos outros três filmes, Rambo era visto lutando contra estrangeiros -- e não mais com americanos. Geralmente em um País oriental, o protagonista se via encurralado em situações que exigiam sua presença em ambientes hostis. O Vietnã foi retratado como um País absolutamente selvagem em Rambo II: A Missão e o Afeganistão como um País que cheira a vingança em Rambo III. Em todos eles, é claro, os russos foram colocados como grandes vilões.

Agora, 11 anos depois do quarto e esquecível filme da franquia, Sylvester Stallone volta ao papel que o consagrou, junto de Rocky, em Rambo: Até o Fim. Só que ao contrário do recente Creed, o brutamontes aposta num visual mais carregado e numa violência gráfica. Além disso, não atualiza a trama. Rambo volta a ser o bastião da força americana visto nos três filmes subsequentes ao clássico Programado para Matar, fazendo com que os estrangeiros assumam papel de caras malvados. Bem maniqueísta.

Para isso, o diretor Adrian Grunberg (Plano de Fuga) se concentra no drama de vida da menina Gabrielle (Yvette Monreal). Órfã de mãe e abandonada pelo pai, ela decide ir atrás de suas origens, mesmo com os conselhos contrários de seu "tio" Rambo. Assim, numa teimosia típica da adolescência, ela acaba indo parar no México e lá é raptada por um grupo de exploradores sexuais. É a deixa para o protagonista do filme tomar as rédeas da situação e fazer a vida dos criminosos um inferno. A "máquina" está de volta.

O que chocou muita gente é que, novamente, o filme não se atualizou. Manteve a mesma lógica dos três mais recentes e colocou estereótipos de estrangeiros como vilões. Dessa vez, porém, deixaram os russos e os vietnamitas de lado para apostar nos mexicanos. Parece que todos seguem a mesma linha dos criminosos que sequestraram a garota. O filme, afinal, dá a entender que todo mundo ali tem um pé na criminalidade. É complicado. A única forma de balizar isso é com uma personagem mal aproveitada.

Teria sido muito mais interessante se, nesse fechamento da franquia, o personagem se voltasse à sua essência. Se tornasse um pária dentro do próprio País. Seria diferente e evitaria esse selo de filme preso no passado, lotado de estereótipos. É o maior erro aqui.

De resto, porém, o filme cumpre seu papel. Afinal, é um longa-metragem de ação e com uma temática de vingança. Muitos falam que é errado ele ser tão violento com mulheres e criminosos. Ah, por favor! Isso é bobagem. O personagem, como em todos outros filmes, está tomado pela raiva, pela injustiça, pela vingança. Ele age incondicionalmente. Devem mudar a essência do personagem, construído ao longo de décadas, apenas para agradar certos públicos? Assim não dá. É um filme de ação violento. Cumpre seu papel.

A cenas gráficas de violência, afinal, segue um caminho parecido com Logan. Rambo sempre teve mortes e matanças, mas de aspecto comedido. Agora que pode e tem liberdade pra tal, Stallone não perdoa. É sangue pra todo lado. Funciona no personagem.

Por outro lado, Grunberg e Stallone -- que é roteirista -- optam por trazer um tom emocional interessante, que poderia servir bem nesse revival dos anos 1980. O mundo está nessa fase e, sem dúvidas, seria fácil de emocionar o público com nostalgia e saudosismo. Mas, estranhamente, o longa-metragem acaba indo para um lado duvidoso. Tudo é corrido, pouco é explorado. Há uma morte importante no meio do filme que é mal explicada. Nem a reação dos personagens ao redor parece ser bem explorado por ali.

A emoção passa correndo em Rambo: Até o Fim. Quando o longa-metragem parece estar alcançando o seu ápice, as coisas acabam. Ou mudam. É uma sensação parecida com Rocketman, filme sobre o astro Elton John. A nostalgia está ali, a emoção está pronta para saltar. Mas não acontece. O clique, que permite o choro, não surge. E, assim, o longa-metragem acaba numa nota baixa -- mesmo que depois de um espetáculo de sangue, tripas e cabeças. Até que é fã deve se decepcionar com a correria do filme.

Rambo: Até o Fim, de certo modo, honra a memória do personagem. O filme, como deveria ser, não acompanhou as transformações sociais do mundo. Rambo não pega os criminosos pela mão e os leva em casas que o acolhem e tentam reinseri-los na sociedade. Seria lindo ver algo assim, mas não faria sentido. O personagem de Stallone, como dito no primeiro filme, é programado para matar. E é isso que ele faz aqui. Se tivesse um pouco mais de emoção, e menos clichê, talvez funcionaria melhor no geral.

E que lindo seria se houvesse uma retomada da trama do primeiro filme. A oportunidade estava ali, com os EUA afundado em problemas. Rambo, novamente, poderia se sentir sem pátria. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. A única obra-prima da franquia, de fato, continua sendo Programado para Matar. O resto é diversão.

 

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