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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Segredos Oficiais' é filme potente sobre injustiça


Se for parar para pensar no gênero dramático, os filmes de tribunais, sobre jornalismo e de espionagem sempre chamam a atenção do público. As pessoas parecem ter um encantamento com essas profissões e, assim, acabam se rendendo às histórias que não se furtam em mergulhar nesses universos. O novo longa-metragem Segredos Oficiais não perde tempo e junta esses três subgêneros cinematográficos numa só história.

Dirigido pelo instável Gavin Hood (Decisão de Risco, X-Men Origens: Wolverine), o filme conta a história real de Katharine Gun (Keira Knightley), funcionária de uma agência de espionagem inglesa que decide se rebelar contra as ordens de seu governo. O motivo? A Inglaterra vai atrás dos Estados Unidos, durante as ameaças contra Saddam Hussein, e decide mentir para países sobre o real perigo vindo das mãos do ditador do Iraque.

A partir daí, inicia-se uma guerra judicial -- e, principalmente, psicológica -- contra a ex-espiã, que se mantém firme em suas decisões, em suas convicções e em suas crenças.

Muitos podem achar que Segredos Oficiais tem muitas subtramas, muitos filmes em um só. E isso é fato. Há a investigação do jornalista Martin Bright (Matt Smith) sobre as informações vazadas pela protagonista; as conversas dela com o advogado Ben Emmerson (Ralph Fiennes) para se safar de uma condenação; e a confusão envolvendo a permanência do marido de Gun, que é muçulmano e começa a ser ameaçado no País.

Mas, apesar de haver uma diversidade de focos, o longa-metragem possui uma consistência, uma coesão. Hood, por mais que seja um realizador instável, acerta na forma que junta as tramas e não deixa que elas se atropelem. Claro: o jornalismo e o drama de advogados são superiores à espionagem -- esta última parte acaba passando de maneira apenas perpendicular no longa. Mas é algo normal num filme assim.

O elenco, é claro, ajuda a dar essa coesão. Por mais que Keira Knightley (Colette) continue exagerada, Smith (Doctor Who) e Ralph Fiennes (o Voldemort de Harry Potter) equalizam a dramaticidade de Segredos Oficiais e fazem com que a mensagem geral da trama tenha sucesso em sua empreitada. Há força e a reverência com relação aos personagens que ganham vida pelas mãos dos dois atores ingleses. Estão muito bem.

Além disso, Gavin Hood não foge da responsabilidade de dar um sentido ao que está sendo contado. Ele tem uma posição clara com essa história toda e mostra, desde o começo, quem são os bandidos e quem são os mocinhos -- ainda que, espertamente, o roteiro dê camadas e não os torne unilaterais. E não adianta. Se o diretor quisesse ser isentão, o longa-metragem perderia muito de sua força. Principalmente no seu final.

Pena, porém, que o filme tenha uma série de cenas desnecessárias -- principalmente envolvendo o sofrimento da personagem de Knightley -- e perca a chance de criar algumas boas cenas de tensão. Hood domina a trama, mas falta em criar emoção ali.

Segredos Oficiais, assim, é um longa-metragem interessante. Traz boas discussões, tem atores interessantes e interessados. E, sobretudo, se propõe a deixar uma história forte, com consonâncias nos dias atuais, para ir além. Tudo bem: é formulaico, não se arrisca e há o problema da fraca atuação da protagonista. Mas a história é mais forte, mais potente. No final, fica a lembrança do que foi contado. Não desses detalhes menores.

(*) Filme visto durante cobertura especial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

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