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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'The Cleaners' traz assunto delicado para tempos digitais


Atualmente, o Facebook conta com 2,3 bilhões de usuários ativos. O YouTube, 1,9 bilhão. O Instagram já passou do 1 bilhão. É muita coisa, muita gente produzindo conteúdo o tempo todo. Como controlar o que é postado para que nenhuma dessas redes exiba algo explícito como pornografia, violência, bullying? Poucos sabem, mas há pessoas treinadas justamente para avaliar postagens suspeitas, identificadas por algoritmos ou denunciadas por outros usuários, e assim deixar a rede limpa dessas tais impurezas.

É esse o tema do ótimo documentário The Cleaners, que chega em circuito restrito no Brasil nesta quinta-feira, 28. Já exibido na competição internacional do festival É Tudo Verdade 2018, o longa-metragem acompanha o cotidiano e as decisões de funcionários nas Filipinas que trabalham avaliando essas postagens suspeitas nas maiores redes do País. É o dia inteiro vendo fotos de pessoas decapitadas, cenas de sexo explícito, pedofilia, atentados terroristas. Um trabalho que não é fácil de lidar no cotidiano diário.

Dirigido pelos estreantes Hans Block e Moritz Riesewieck, o filme tem como objetivo básico mostrar a vida dessas pessoas, mas vai além. A dupla de cineastas, que não tem medo de cutucar a ferida, traz boas reflexões sobre o trabalho de avaliar as publicações das redes sociais. Até que ponto não pode ser considerada uma censura? Será que, às vezes, não pode ser uma expressão artística? E como essas decisões podem acabar por mobilizar massas, fazer crescer sentimentos? Ou, ainda, amenizar revoltas populares?

Não é uma discussão simples e, principalmente, não é um trabalho fácil feito por Block e Riesewieck. Eles usam o retrato do cotidiano desses "limpadores" para trazer novos aspectos. É interessantíssimo, por exemplo, quando eles mostram uma imagem sendo analisada por esses funcionários -- que são terceirizados, sem ligação direta com as grandes redes -- e, sem seguida, entrevistam o dono da imagem censurada. Traz uma complexidade interessante, rara. O espectador vê os dois lados e se decide do melhor.

Além disso, a dupla decide se aprofundar ainda mais ao falar sobre as consequências das redes sociais na vida como sociedade. Os discursos de ódio que se intensificaram, por exemplo. Nesse ponto, o documentário peca um pouco por não conseguir se aprofundar tanto quanto se propõe. Deveria ter parado um degrau antes. Mas, ainda assim, é válida a reflexão. Sem dúvidas, The Cleaners é um filme que te faz ficar pensando repetidas vezes sobre o tema e sobre o trabalho inglório de limpeza digital.

Assim, mais do que um simples documentário que relata a vida de funcionários com uma mesma -- e curiosa -- função, The Cleaners é um filme-denúncia, um documento audiovisual que mostra os impactos das redes na vida das pessoas, direta e indiretamente. Forte e incisivo, é um filme que serve para fazer refletir sobre coisas que, geralmente, passam batidas. Vale pelo ineditismo das informações trazidas, pela importância da noção social. É desconfortável, é forte. Um filme que merece ser visto.

 

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