Havia muito medo ao redor de X-Men: Fênix Negra. Muita coisa poderia dar errado. A mesma história, afinal, já foi abordada no fracassado O Confronto Final. Deu muito errado. Além disso, a franquia capitaneada por James McAvoy e Michael Fassbender mostrou sinais de cansaço com o apenas mediano X-Men: Apocalipse. Parecia o sinal para deixar os mutantes descansando. No entanto, olha que surpresa: o novo e último filme da franquia, protagonizado por Sophie Turner, fecha a trama com chave de ouro.
A história já é mais ou menos conhecida. Jean Grey (Turner) é uma mutante com poderes telepáticos acima da média. É mais forte, inclusive, do que o Professor Xavier (McAvoy). A coisa complica, porém, quando ela entra em contato com uma explosão solar e que, na verdade, é uma nuvem carregada de poderes cósmicos. Ela absorve a nuvem e, a partir daí, passa a perder o controle de seus poderes. É o momento em que surge a tal Fênix Negra, aberração poderosa que começa a destruir tudo e todos.
O filme é dirigido por Simon Kinberg, produtor de todos os filmes dos X-Men desde Primeira Classe -- além disso, o versátil produtor também esteve por trás de filmes como Perdido em Marte, Quarteto Fantástico e Cinderela. Versatilidade é o seu forte. Mas aqui, em Fênix Negra, essa sua aparente personalidade de ser "pau pra toda obra" não atrapalha a trama. Ao contrária do que poderia ser, como é no filme de 2006, as histórias são organizadas, há uma linha narrativa e personagens bem definidos.
Isso permite que fique claro na tela a consonância entre direção, roteiro, elenco e produtores técnicos. Por mais que haja efeitos especiais exagerados aqui e ali, algumas atuações fracas (e que vamos falar já, já!) e momentos mornos, a experiência funciona no geral. A história é empolgante, em alguns momentos cria tensão e, em outros, empolgação. A conclusão de arcos de personagens tão marcantes como Professor Xavier e Magneto (Fassbender) ajuda a dar o tempero necessário. Tudo é feito com cuidado. Ponto duplo para Kinberg, que também escreveu o roteiro adaptado da HQ.
Vale destacar, também, que o filme ganha pontos pelo vilão, na verdade, ser a própria Jean Grey -- ainda que haja alienígenas correndo por fora. A ameaça é mais real, mais emocional, mais difícil de ser combatida. É um elemento a mais que faz com que Fênix Negra tenha uma qualidade igual, ou superior, ao ótimo Primeira Classe. Pena, porém, que não seja tão bom quanto Dias de um Futuro Esquecido. Há errinhos no caminho.
O primeiro erro é a presença de Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes) e Evan Peters (Kick-Ass). Ambos, ainda que apreçam pouco neste último filme como Mística e Mercúrio, atrapalham. Eles não estão com a mínima vontade em participar do filme. O desgosto de ambos é evidente em cada cena que aparecem. Preferiam estar fazendo qualquer outra coisa do que estar participando de mais um X-Men -- ó, quanto sofrimento, não é mesmo? É falta de respeito com o espectador. Falta profissionalismo de ambos aqui.
No entanto, o grande erro em termos interpretativos é Sophie Turner. A estrela de Game of Thrones apresenta uma atuação robótica, ainda que esforçada. Na maioria dos momentos, ela não consegue se impôr. E há uma dificuldade maior. Afinal, ainda que ela seja a vilã, a personagem da ótima Jessica Chastain (Armas à Mesa) também belisca esse posto de vez em quando. Se a personagem de Chastain fosse bem escrita, poderia compensar a falta de talento de Turner. Mas não é isso que acontece aqui, infelizmente.
Se não fosse por McAvoy (O Último Rei da Escócia) e Fassbender (Shame), o filme seria um fiasco em questão de interpretação. Kinberg, sem dúvidas, sabe gerenciar histórias para contá-las na tela grande. Mas não sabe extrair as melhores interpretações.
Mas, apesar desses erros, X-Men: Fênix Negra surpreende e encerra bem esse ciclo dos mutantes na era da Fox. Claramente, os atores não serão aproveitados dali pra frente. Há um clima de despedida no ar. Mas tudo bem. Os arcos foram encerrados, as histórias foram honradas -- tanto a HQ, quanto a franquia atual, quanto a anterior. Bom filme.
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