Emoldurados pelo imponente espaço da casa de show Villa Country, em São Paulo, elenco e produção do drama nacional Coração de Cowboy deixaram claro que a trama, por mais que tenha raízes sertanejas, ultrapassa as barreiras do gênero musical e tenta tocar, de alguma forma, em assuntos emocionais. "É um filme sobre a perda de identidade, sobre a necessidade de se reconectar com o passado", resumiu o diretor Gui Pereira durante coletiva de imprensa realizada na tarde da última segunda-feira, 24.
Coração de Cowboy acompanha a trajetória de Lucca (Gabriel Sater), um cantor de sertanejo universitário que entra em crise ao não se reconhecer mais em suas músicas. A saída, então, é abandonar tudo e partir para a cidade de seu pai (Jackson Antunes), onde precisará recriar vínculos e tentar, de algum modo, encontrar novamente a sua identidade. Nesse difícil processo, o rapaz ainda conhece uma dona de bar durona (Thaila Ayala) e revê a sua antiga companheira de palcos Marcella (Thaís Pacholek).
A inspiração sertaneja do longa-metragem fica mais lúcida ao compreender o processo de escrita de Gui e seu passado como cineasta. Diretor de clipes, como da dupla universitária Mayck e Júlio César, ele estava escrevendo um longa-metragem de terror quando, no rádio, tocou Fogão de Lenha, de Chitãozinho & Xororó. Ele percebeu que precisava voltar às raízes e não se aventurar em coisas que não o representam. No entanto, o cineasta constata que a história é mais universal do que parece inicialmente.
"Por mais que seja uma história envolvendo um cantor sertanejo, você pode trocar a figura do cowboy por músicos de quaisquer outros gêneros que continua fazendo sentido dentro da trama. Mais: você pode colocar cineastas, jornalistas, o que for. É uma história que vai além dos rótulos", resumiu o cineasta. E ele ainda ressalta: "não quero cutucar o sertanejo universitário com esse filme. Há muitos por aí que possuem repertórios excelentes, que mesclam música contemporânea com as raízes do gênero."
Volta. O elenco também ressaltou a volta às raízes para compôr seus personagens. Thaila Ayala (Pica-Pau), por exemplo, nasceu na cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. No entanto, quando foi para o Rio de Janeiro para trabalhar, teve que perder seu sotaque interiorano e falar de um jeito "mais carioca". "De algum modo, a minha personagem foi uma volta às minhas raízes", disse. "Afinal, também passei por um processo de perda de identidade. A personagem é a minha verdadeira essência."
Gabriel Sater (Meu Pedacinho de Chão), enquanto isso, não precisou se refugiar muito nas profundezas de sua memória. Afinal, ele é filho do cantor Almir Sater e, de alguma forma, sempre esteve relacionado com a música e o sertanejo. Por isso, diz que pegou o papel com unhas e dentes. "Li o roteiro pela primeira vez e já queria fazer o filme", conta o ator e cantor. "Abdiquei de muita coisa para conseguir estar aqui hoje."
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