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  • Foto do escritorMatheus Mans

Pedro Novaes fala sobre a experiência com 'Alaska', filme do centro-oeste


Grande parte da produção de filmes no Brasil ainda acontece nas regiões sul e sudeste -- principalmente no eixo Rio-São Paulo. No entanto, graças a um esforço que envolve várias esferas públicas e privadas nos últimos anos, a diversidade regional tem começado a acontecer. Na região centro-oeste, por exemplo, tem surgido exemplos de filmes sólidos e de ampla distribuição, como o excelente documentário Ser Tão Velho Cerrado. Agora, mais um filme está compondo este cenário diverso: o ótimo Alaska.

Com ares de documentário, e elogiado aqui no Esquina, o filme acompanha a história de um casal que tenta dar uma segunda chance ao amor anos após a separação. Para isso, eles decidem sair em viagem na Chapada dos Veadeiros, local que marcou o relacionamento dos dois e que pode dar um novo gás no relacionamento. "Sempre quis contar uma história de amor com narrativa simples", explica Pedro Novaes, diretor do longa, ao Esquina. "Juntei isso com a vontade de gravar algo na Chapada dos Veadeiros."

Apesar de Pedro chamar a história do filme de "simples", há diversas pontos criativos ao longo da narrativa que impressionam. O próprio título, Alaska, causa estranhamento, curiosidade em um primeiro momento. Em determinado momento do filme, porém, parte do mistério é revelado: o estado americano do Alaska é um objetivo de viagem do casal principal. Mas vai além. "Isso tem um aspecto simbólico das idealizações que fazemos das relações românticas. Vai além de um trajeto qualquer", conta o diretor.

No filme, o cenário acaba se tornando uma espécie de personagem, ainda que não de maneira intrusa ou exagerada. Ou seja: mais do que contar uma história no Cerrado, o cineasta optou por contar uma história, de fato, do Cerrado. E curiosamente, Novaes não é natural de Goiás e região. Ele nasceu no Rio de Janeiro e mudou para o centro-oeste ainda pequeno, criando um vínculo com a região. "Tenho uma relação muito forte com a Chapada. Um elo emocional. Fui lá pela primeira vez há 30 anos", confidencia Pedro.

Além disso, outro personagem que surge aos poucos é o silêncio. As pausas entre conversas dizem mais do que ações, momentos, atitudes de personagens. "Esse uso do silêncio e da pausa foi uma construção. Não era algo que estava planejado no roteiro", conta Pedro. "Eu queria trabalhar mais com coisas fechadas. Mostrar as transformações nas relações. Só que a coisa acabou caminhando para esse sentido, onde nós valorizamos a introspecção dos atores. Foi uma descoberta e tanto durante a filmagem."

Produção. Este é o primeiro longa-metragem de ficção de Pedro Novaes, que já tinha feito outros três curtas -- dois deles, porém, ele diz ter "vergonha de mostrar por ser experimental demais". Mas o filme bebe da experiência do diretor como documentarista, trazendo um aspecto extremamente real para Alaska. "Gosto de fazer essa experimentação pessoal de caminhos, misturando a ficção com o documentário. Gosto de trazer verdade dramatúrgica", diz ao Esquina. "Foi difícil. Mas toda dramaturgia não é fácil. Contar boas histórias, fazer bons filmes, é algo escorregadio. Foge de mim."

Mas apesar das dificuldades, Pedro vê com positividade o seu futuro no meio ficcional e, principalmente, gosta do que vê na cena cinematográfica do centro-oeste. "A produção na região cresceu muito nos últimos tempos. São 27 longas em produção em Goiás, com lançamentos mais frequentes e mais presença em festivais. É um polo de produção que está se encontrando", diz. "Alaska é uma contribuição modesta, exteriorizando histórias que possuem algo de específico do goiano, do Cerrado, do centro-oeste. Não sabemos o que é isso ainda. Mas é algo que vai se mostrando, de maneira sutil, no que fazemos."

 
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