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  • Foto do escritorMatheus Mans

Clássicos de Graciliano Ramos ganham novas edições


O Grupo Editorial Record, no último mês, lançou novas edições da obra de Graciliano Ramos -- mais especificamente, dos livros Vidas Secas, Angústia e S. Bernardo. Um dos escritores mais influentes da literatura brasileira, Graça ganha novas capas, novos posfácios, que ajudam a compreender melhor a importância daquelas histórias, e um cuidado gráfico ainda mais apurado. É, afinal, uma reedição importante e necessária para que os livros, importantes para além dos vestibulares, continuem suas jornadas.

"Graciliano continua atual. Infelizmente o País não mudou muito nos últimos cem anos em termos sociais. Como o texto do velho Graça exibe um engajamento político que denuncia a falta de interesse perene dos governantes em construir uma nação mais justa, com divisão de riqueza, educação, segurança, saúde, e tudo aquilo capaz de nos colocar nas ruas ainda hoje, o escritor permanece sendo ouvido", afirma Ricardo Ramos Filho, escritor e pesquisador da obra de Graciliano. "Ao manter-se novo, e posicionar-se entre os melhores autores nacionais, precisa ser constantemente revisitado."

A obra Vidas Secas, por exemplo, surgiu em na década de 1930 em formato de conto -- era o emocionante capítulo sobre a cadela Baleia. O texto faz sucesso e ele acaba expandindo a história, transformando-a no clássico imutável de hoje em dia que fala sobre sociedade, política e, principalmente, movimentos geográficos de retirantes.

Já com S. Bernardo, Graça faz algo diferente. Também publicado na década de 1930, o escritor alagoano resolveu falar sobre os homens que ficam na região árida do Nordeste. Neste caso, de Paulo Honório, um homem que sai da base da pirâmide social para o comando de uma fazenda. No entanto, ele acaba sendo consumido por um ciúmes mortal. Em Angústia, ele segue uma linha narrativa parecida. Mas mergulha ainda mais na mente e nos sentimentos desses homens que ficam em suas terras.

"Poucos escritores conseguem um estilo tão particular como Graciliano. Qualquer texto seu prescinde de assinatura, é facilmente identificável. Ele é seco, irônico, amargo, sarcástico, cuidadoso com as palavras, incapaz de excessos, de um adjetivo mal colocado – até por usá-los pouco", diz Ramos Filho, ao ser questionado sobre a atualidade de Graça pelo Esquina. "Ao ter se mantido atento à forma do povo falar, conseguiu introduzir certa simplicidade, ao mesmo tempo em que se tornou inovador. Destaca-se por ser conciso. Usa a palavra apenas para dizer, nunca para enfeitar."

Atualmente, a obra de Graciliano continua sendo uma das mais vendidas no País. Vidas Secas, por exemplo, é editado desde 1975 pela Record. Em 2018, vendeu mais de 1,8 milhões de cópias. "É sua obra mais conhecida e vendida. Em uma editora grande como a Record, consegue ocupar o primeiro lugar em vendas. No conjunto da produção, é responsável por cerca de 70% dos direitos autorais auferidos. Talvez por ter ficado muito tempo sendo adotado nos vestibulares, ano após ano, sempre se destacou como dos livros mais lidos no Brasil", diz Ricardo. "Os outros títulos, embora menos conhecidos e vendidos, destacam-se pela crítica favorável, pelo interesse crescente da academia, por elogios feitos por quem conhece e admira a boa literatura."

Para Ricardo Ramos Filho, porém, as pessoas não devem se aventurar na obra de Graça logo de cara. "Graciliano não é um autor para iniciantes. Recomendo que se entre em contato com a obra mais tarde, depois de adquirida uma atitude leitora. O leitor deve ser experiente para poder fruir o autor alagoano em toda sua grandeza. Acho que A terra dos meninos pelados, um conto infantil cheio de fantasia, é um bom começo. Histórias de Alexandre também será um contato mais fácil. De sua literatura adulta sugiro primeiro os romances, pela seguinte ordem: Vidas secas, Caetés, São Bernardo e Angústia. Mas Graciliano é daqueles autores que devem ser lidos por inteiro. Qualquer livro dele é importante."

 
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