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Autora de 'Taça Escarlate' fala sobre literatura e 'universo feminino'


Luciane Monteiro é autora de 'Taça Escarlate' (Crédito: Divulgação)
Luciane Monteiro é autora de 'Taça Escarlate' (Crédito: Divulgação)

Nascida em Paranaguá, no Paraná, a autora Luciane Monteiro já tem uma carreira consolidada na literatura. Além de ser graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pelo CEFET, Luciane já participou de antologias e, ainda, lançou de forma independente um e-book e seu primeiro livro.


Agora, a autora paranaense comprova sua sensibilidade com Taça Escarlate, publicado pela Editora InVerso. Reunião de contos, o livro fala sobre a figura feminina na sociedade de hoje. Seu papel como mãe, como esposa e, principalmente, como mulher. São histórias, como destacado na resenha aqui do Esquina, que falam sobre mulheres mas que não se restringe às mulheres.


Por isso, resolvemos falar com a autora e entender um pouco mais de seu processo criativo, de seus novos projetos e sobre a literatura de contos. Confira o bate-papo completo logo abaixo:


Esquina da Cultura: De onde surgiu a ideia de 'Taça Escarlate'? De onde veio a ideia de escrever esses contos?

Luciane Monteiro: O livro foi sendo construído ao longo de alguns anos. Sempre gostei de escrever romances, mas, quando iniciei a faculdade, devido à falta de tempo, tive que explorar outros gêneros textuais. Passei para os contos que, embora sejam histórias curtas, são intensas e revelam muito em poucas palavras, o que satisfez a minha necessidade de criar personagens. No início eram contos soltos, com personagens masculinos e femininos. No entanto, para compor um livro, decidi pela conexão temática e separei homens de um lado e mulheres do outro com o objetivo de focar no universo feminino, que por si só já é bem amplo! 

Esquina: O livro transita entre temas muito íntimos para outros mais generalistas, que podem se encaixar no perfil e na vida de muitas mulheres. De onde veio a inspiração?

Luciane: Sempre fui uma admiradora da força feminina. Cresci entre mulheres fortes, minha mãe e minhas irmãs, que foram exemplos de perseverança para mim, de modo que passei a admirar a força inerente a todas as mulheres. Contudo, ao longo do tempo, fui aprendendo a perceber e prezar as diferenças, respeitando a individualidade e o valor de cada uma.


Em relação a autores, tive contato com muita obra de qualidade durante a faculdade de Letras, de modo que seria difícil destacar somente alguns. Porém, vou citar Clarice Lispector, pois logo me identifiquei com seus textos. Sempre gostei da escrita intimista, de me colocar no lugar do personagem e explorar todas as suas inquietações. Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Márquez, que me marcou com a profundidade dos personagens. Marina Colasanti e sua escrita cheia de encantamentos. Não posso esquecer a Glória Kirinus, com quem aprendi que crianças podem explorar textos complexos e inteligentes. E, é claro, o livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos, leitura obrigatória para as mulheres. Entre tantos autores e livros, a lista seria extensa.

Por fim, a inspiração para esse livro especificamente surgiu da vontade de entender o que se passa no interior de cada um, seja homem ou mulher. Essa curiosidade de explorar os desassossegos do ser humano, de se colocar no lugar do outro, sentir suas dores e alegrias. E, depois, transferir para o papel com uma pequena dose de fantasia.

Obra de Luciane Monteiro foi destaque no 'Esquina'
Obra de Luciane Monteiro foi destaque no 'Esquina'

Esquina: Qual o desafio de escrever em formato de contos? Já testou outros formatos?

Luciane: Sim, comecei escrevendo poesias e romances. Eram textos ingênuos que eu escrevia sem intenção de publicar. Foi na faculdade que percebi que podia aprimorar os meus escritos e deixá-los mais profissionais. Nesse período, descobri o conto por falta de tempo de escrever textos extensos. Contudo, foi uma grata surpresa perceber que, embora menores, eles podem ser profundos e intrigantes. Enfim, contam uma história inteira, uma explosão de sentimentos em poucas linhas ou páginas.

Não é um gênero fácil, tendo em vista que o maior desafio é dar uma vida tão efêmera a um personagem muitas vezes tão profundo. Envolver o leitor com pouco espaço de tempo, sem decepcionar ao final, despertando-lhe a percepção que a história tem uma trama, uma mensagem, implícita ou explícita. Escrever contos é profundamente envolvente, e eles nunca são pequenos ou longos demais, são sempre exatos.

Como disse antes, já testei poesias, embora hoje não seja meu gênero predileto. Já testei, porém, e continuo testando os romances. Tenho, inclusive, um que foi lançado em março, pela editora InVerso: A Última Tempestade, que aborda violência doméstica, perseverança e recomeço.

Por fim, também tenho textos infantis, ainda em formato de rascunhos, esperando a oportunidade de serem publicados.


Esquina: Uma coisa que destaquei na resenha é que apesar de ser um livro sobre mulheres, não é unicamente para mulheres. Você pensou nisso enquanto escrevia?

Sim, penso que os sentimentos descritos no livro são universais. No conto “O porta-retratos”, por exemplo, embora a descrição gire em torno de Vera, o personagem que a descreve é um homem, de modo que aqui eu exploro a sensibilidade masculina em relação ao ser humano, a percepção da solidão do outro, a sua capacidade de ouvir. No conto “A grande noite no castelo”, o personagem que se destaca também é masculino, foi quem eu escolhi para perceber e descrever a necessidade da rainha Judite de ter uma lembrança para sua velhice. E, para finalizar, no conto “A Varanda”, eu exploro a observação silenciosa do marido em relação às mudanças da esposa, e a forma como ele cresce dentro da história com uma mudança que vem de dentro. Destacando, desse modo, a capacidade do ser humano de silenciar, observar e  quebrar barreiras. 

É interessante quando leitores do sexo masculino comentam sobre o livro comigo porque, por meio de seus depoimentos, percebo que demonstram compreensão da diversidade das personagens. E alguns, como você citou em sua resenha, veem mulheres de suas vivências, colocando-se por vezes, no lugar delas para entender melhor o complexo universo das emoções femininas.

A minha esperança é que um olhar sensível à temática feminina provoque ternura no leitor, empatia em lugar de julgamento

Esquina: Qual a importância de trazer esse olhar sensível à temática feminina?


A minha esperança é que um olhar sensível à temática feminina provoque ternura no leitor, empatia em lugar de julgamento. Também desejo que provoque inquietações, porque a reação do leitor certamente revela muito da nossa sociedade. Espero, do mesmo modo, que o leitor compreenda que nem todas conseguem alçar seus voos, mas nem por isso devem ser menosprezadas. E, principalmente, anseio para que as mulheres descubram que nossa força vem de dentro, e que todas possuem essa essência selvagem capaz de criar vida e eclodir em mudanças poderosas. Às vezes um sopro, um sussurro fazendo cócegas, insistindo em dizer que temos valor.  

Esquina: Já tem novos projetos? Novos livros sendo escritos?


Com certeza! Fora o romance A Última Tempestade, já tenho outros que estou enviando para análise de algumas editoras, no aguardo de oportunidade para lançar. Tenho ainda mais dois livros de contos, um com a mesma característica do Taça Escarlate, porém explorando o universo masculino. E outro de uma pegada mais engraçada, embora também explore o ser humano, com foco, contudo, para suas mazelas, dessa vez. Por fim, tenho livros infantis, pois a literatura infanto-juvenil sempre me encantou, de modo que não resisti a me arriscar no gênero.

 
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