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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Encarcerados' é documentário necessário em tempos tão bicudos


Precisamos falar sobre o sistema prisional. Ponto. Assim como já abordamos o tema ao resenhar o bom livro Estarão as Prisões Obsoletas?, as cadeias ao redor do Brasil (e do mundo) mostram uma falência nesse sistema corretivo. Do jeito que está, o Estado não consegue mais recuperar o criminoso. Apenas afunda o sujeito em um mundo criminal cada vez mais amplo.


E este é um dos assuntos mais importantes do documentário Encarcerados, documentário inspirado no livro ‘Carcereiros’, de Drauzio Varella. Inicialmente, o filme busca falar sobre a rotina e as dificuldades do trabalho dos carcereiros -- como já vimos no documentário A Gente, de Aly Muritiba. Mas, rapidamente, Fernando Grostein Andrade, Pedro Bial e Claudia Calabi vão além.


Os três diretores, a partir de percepções dos carcereiros, falam mais sobre as dores e os problemas do sistema prisional. A ausência do Estado, e a subsequente entrada de facções no controle dessas instituições, é um dos principais problemas que surge na conversa. Mas também se fala sobre a falta de recuperação, lotação, condenações exageradas e por aí vai.

Difícil passar impassível por todas essas reflexões já apresentadas brilhantemente no livro de Drauzio -- e que foram ficcionalizadas de maneira não tão brilhante na série Carcereiros e, depois, no filme. A câmera instigante de Andrade, Bial e Calabi entra em cada canto do presídio e, o mais surpreendente, traz relatos contundentes de carcereiros, algo raro de vermos por aí.


É difícil, mesmo o documentário tendo uma duração bem curta, de 72 minutos, sair impassível das reflexões que são trazidas. Tudo bem que muita coisa deveria ser aprofundada e não é, como o envolvimento de carcereiros com o mundo do crime ou, até mesmo, a criminalização de viciados em drogas que, dentro do presídio, se tornam também criminosos profissionais.


Não daria para falar sobre isso tudo mesmo que o documentário tivesse duas horas. São temas densos. Precisaria de um filme pra cada. Mas, ao final de Encarcerados, dá para sentir que o filme cumpriu seu papel ao provocar uma reflexão e nos fazer sair do lugar-comum de pensamento sobre a prisão. Chegou a hora de, em algum momento, irmos além no debate.

 

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