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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Problema de Nascer' é filme estranho e provocativo


Que filme mais estranho, ousado e provocativo é esse O Problema de Nascer, selecionado para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2020. Dirigido por Sandra Wollner, o longa-metragem mostra a relação de um homem apático e sem vida (Dominik Warta) com sua “filha” robótica (Jana McKinnon). E não "robótica" como adjetivo, mas sim como substantivo. Ela é um robô. Um androide, pra falar a verdade, que desenvolve uma relação estranha com esse homem.


E é em cima desse ambiente e dessa relação que O Problema de Nascer vai crescendo, se amplificando, se insinuando. Afinal, Wollner se vale de uma repetição de quadros, enquadramentos e sequências para mostrar a rotina que aqueles dois caíram. Ela vive seus dias de maneira livre, leve e solta. Ele, enquanto isso, a usa como uma espécie de receptáculo de suas memórias. Neste ponto, a cineasta insere a tradicional questão existencial dos robôs.

Isso não é algo novo — vide as discussões de Blade Runner, por exemplo, ou até mesmo A.I.: Inteligência Artificial. No entanto, é provocativa a abordagem em O Problema de Nascer. Há uma certa sexualização da personagem, que deve deixar os críticos de Lindinhas absolutamente revoltados. Há nudez, ainda que escondida, da menina, que nunca se revela. Uma máscara de látex a esconde e sua identidade nunca é revelada, amplificando a força do filme no todo.


No entanto, rapidamente surgem questões que devem ter feito também na época que Lolita ganhou as prateleiras: precisava disso? A pedofilia praticada pelo homem com a robô fica implícita em vários momentos. Assim, é realmente desconcertante a forma natural que Sandra coloca esse sentimento na história. Obviamente, do ponto narrativo isso tudo faz sentido. No entanto, é difícil não pensar na atriz. Complicado colocá-la em tal posição. Fica algo estranho.


O filme, uma pena, perde esse tom tão bem conquistado durante a passagem entre "pai" e "filha" quando dá um guinada lá pra metade. Tudo bem: faz sentido dentro da história e a questão existencialista da robô é ainda mais amplificada. No entanto, o ritmo é quebrado e fica a sensação estranha do que sobrou nesses restos de história. Poderia ter terminado de maneira mais provocante, arrebatadora. Dessa maneira, o final não acompanhou o resto da proposta.

 

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