Crítica: ‘O Ritual’ não consegue escapar da mesmice dos filmes de exorcismo
- Matheus Mans

- 27 de jul.
- 3 min de leitura

O Ritual, novo filme de terror que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 31, carrega consigo uma missão quase impossível: superar ou ao menos se equiparar ao clássico O Exorcista (1973), de William Friedkin. Sob a direção de David Midell (The Killing of Kenneth Chamberlain), a produção tenta encontrar uma nova abordagem para um tema já amplamente explorado pelo cinema de horror, mas acaba se perdendo entre suas próprias pretensões.
A narrativa acompanha Emma Schmidt (Abigail Cowen), uma jovem que vivenciou o que seria o exorcismo mais documentado dos Estados Unidos. Atormentada por episódios que confundem questões sobrenaturais com transtornos psicológicos, ela encontra na Igreja sua última esperança de salvação. Os padres Theophilus (Al Pacino) e Joseph (Dan Stevens) lideram o processo de exorcismo, auxiliados por freiras locais.
O enredo, por si só, não oferece grandes surpresas. Trata-se da mesma fórmula que dezenas de produções já exploraram desde o sucesso de Friedkin, com resultados que variam entre o desastroso (O Exorcista do Papa) e o competente (O Exorcismo de Emily Rose).
Midell busca diferenciação principalmente através de decisões visuais. A câmera handheld, inspirada no estilo documental de séries como The Office, deveria criar um senso de realismo e intimidade. Na prática, porém, a escolha se mostra isolada e pouco fundamentada narrativamente, resultando apenas em uma experiência visual instável e desconfortável.
O diretor também opta por minimizar os elementos tradicionais do horror. Os sustos são raros, e o processo de exorcismo é retratado de forma fria e distante. Embora a intenção seja nobre – fugir dos clichês do gênero – a execução acaba gerando um filme sanitizado que não consegue assustar nem envolver emocionalmente o espectador.
A grande falha de O Ritual está na sua incapacidade de definir o que realmente pretende ser. Na tentativa de não ser "mais um filme de exorcismo", acaba sendo exatamente isso, só que de forma menos eficaz. As discussões sobre fé e religião, apresentadas como diferenciais, já foram exploradas com mais profundidade em produções anteriores, incluindo o próprio O Exorcista: O Devoto.
O resultado é uma obra apática que tenta reinventar algo que talvez não precise de reinvenção, mas sim de execução competente. A pretensão de ser diferente mascara a falta de uma visão clara sobre o que o filme realmente quer comunicar.
Al Pacino e Dan Stevens fazem o que podem com um material limitado. Pacino, lamentavelmente, se vê preso a um personagem superficial, restrito a declamar salmos e orações sem desenvolvimento real. Suas poucas falas estruturadas não conseguem sustentar a presença de um ator de seu calibre.
Stevens tem mais material para trabalhar, mas é constantemente prejudicado pela direção errática e pela montagem fragmentada, que impede o desenvolvimento adequado de qualquer tensão dramática ou momento emocional.
O Ritual representa mais uma tentativa frustrada de capturar a magia de O Exorcista. Na ânsia de ser inovador, o filme se torna pretensioso e inconsistente, como se tivesse medo de abraçar completamente qualquer direção escolhida.
O longa de Midell pode ser considerado uma das grandes decepções do ano, não necessariamente pela sua qualidade técnica, mas pela oportunidade desperdiçada de trazer algo genuinamente novo para um gênero que continua à sombra de um clássico de meio século atrás.
O Exorcista permanece, assim, como o único grande filme sobre exorcismo de Hollywood – uma posição que O Ritual estava longe de ameaçar.










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