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Crítica: 'Quarteto Fantástico: Primeiros Passos' mostra que medo de errar gera mediocridade

  • Foto do escritor: Matheus Mans
    Matheus Mans
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

A Marvel Studios atravessa uma fase delicada. Desde Vingadores: Ultimato, o estúdio não conseguiu entregar uma produção verdadeiramente memorável – Guardiões da Galáxia Vol. 3 e Thunderbolts até se aproximaram do sucesso, mas não alcançaram a excelência esperada. É neste contexto que surge Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, um filme que, assombrado pelos fracassos recentes do estúdio, escolhe o caminho mais seguro possível, entregando uma narrativa sem tempero ou identidade própria.


Dirigido por Matt Shakman (WandaVision), o longa-metragem se passa em uma realidade alternativa com estética retrofuturista dos anos 1960, lembrando Os Jetsons, onde a tecnologia avançada convive com o visual vintage. Neste universo, o Quarteto Fantástico – Reed Richards (Pedro Pascal), Sue Storm (Vanessa Kirby), Johnny Storm (Joseph Quinn) e Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach) – são heróis celebrados pela população após terem seus DNAs alterados em uma missão espacial malsucedida.

A tranquilidade do grupo é interrompida quando a Surfista Prateada (Julia Garner) chega à Terra com um aviso aterrorizante: Galactus (Ralph Ineson), o Devorador de Mundos, está vindo. A partir daí, desenvolve-se uma corrida contra o tempo para impedir a ameaça cósmica – uma premissa que a Marvel promoveu como sua primeira verdadeira ficção científica e seu filme "mais diferente". Infelizmente, essa promessa não se concretiza.


Quarteto Fantástico: Primeiros Passos sacrifica qualquer traço de personalidade em nome da segurança comercial. A Disney, ciente de que estes personagens representam uma possível salvação para o estúdio, optou por um diretor tecnicamente competente, mas sem visão autoral. Shakman entrega exatamente o que era esperado: um filme que segue o manual da Marvel página por página, sem jamais ousar algo diferente – o oposto do que foi Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, uma das poucas produções recentes do estúdio com verdadeira personalidade.


O resultado é uma narrativa previsível que nunca supera suas próprias limitações. O ponto alto ocorre aos 40 minutos de projeção, quando temos o primeiro vislumbre do poder destrutivo de Galactus – aqui Ralph Ineson faz a melhor escolha de casting do filme. A partir deste momento, porém, o ritmo se torna descendente e jamais recupera a intensidade inicial. Tudo se torna plano, apático e anêmico, como se cada decisão narrativa tivesse sido calculada para evitar qualquer tipo de risco criativo.

A falta de química entre os protagonistas evidencia essa abordagem cautelosa. Embora individualmente talentosos – especialmente Vanessa Kirby –, os atores não conseguem estabelecer a dinâmica familiar que deveria ser o coração da franquia. Sue Storm se torna refém de sua condição de mãe; Ben Grimm nunca recebe desenvolvimento adequado, limitando-se a um romance mal desenvolvido; Johnny Storm perde sua irreverência característica, reduzido ao estereótipo do "irmão caçula"; e Reed Richards emerge como o mais problemático dos quatro, um cientista sem brilho que constantemente escolhe as piores alternativas possíveis.


A falta de personalidade se estende a todos os aspectos da produção. Até mesmo a trilha sonora decepciona, abusando do tema clássico do Quarteto Fantástico em momentos completamente inadequados. Uma fuga? Tema musical. Uma piada? Tema musical. Um anúncio de gravidez? Explosão do tema musical. É como se um algoritmo tivesse decidido o que funcionaria melhor com determinados segmentos de fãs.


O visual impressiona inicialmente, mas essa qualidade se restringe aos primeiros vinte minutos. Depois disso, nem a direção de arte consegue salvar um filme com medo crônico de ser criativo. A ausência de personalidade domina completamente a narrativa, transformando a experiência em uma refeição sem sal – insossa e facilmente esquecível.


É preocupante perceber que a Marvel parece ter desaprendido os fundamentos do bom cinema de entretenimento. Tudo se tornou óbvio, calculado, sem riscos. O Quarteto Fantástico merecia muito mais, especialmente quando consideramos que até mesmo a produção de 2007, universalmente criticada, oferecia mais personalidade que esta nova versão. Em quase duas décadas de evolução técnica, regredimos criativamente. E isso não poderia ser mais alarmante para o futuro do cinema de super-heróis.


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