Michael Bay tentou matar Transformers. Ao longo de vários e vários anos, fez filmes absolutamente intragáveis -- eram longos, cansativos, exagerados, desinteressantes. Parecia que não tinha salvação. Até que a Paramount Pictures lançou o ótimo Bumblebee e comprovou que dava pra fazer algo diferente, criativo, original. Agora, o estúdio segue o caminho desse filme que deu certo e lança o surpreendente Transformers: O Despertar das Feras, nesta quinta, 8.
Dirigido por Steven Caple Jr. (do bom Creed II), o longa-metragem é o mais pé no chão de toda a franquia. Na trama, Noah (Anthony Ramos, de Em um Bairro de Nova York e Hamilton) é um rapaz lutando para encontrar um emprego em Nova York quando se depara com Mirage (na voz de Pete Davidson), um carro-robô criativo e desbocado. É aí que ele se depara com o mundo dos Autobots e, ao lado da jovem Elena (Dominique Fishback), tenta salvar o mundo do colapso.
Obviamente, o cineasta natural de Ohio, nos Estados Unidos, fica preso em algumas convenções da franquia, como os animais-robôs e aquela necessidade de deixar tudo grandioso – o filme, afinal, volta a falar sobre uma ameaça cósmica contra a Terra. No entanto, se aproxima de Bumblebee quando coloca emoção e desenvolvimento nos robôs – que, antes, eram apenas máquinas frias. A história tem mais preocupação em se desenvolver do que criar espetáculo.
Além disso, há leveza: enquanto os outros filmes não davam espaço para isso, Transformers: O Despertar das Feras consegue colocar um humor funcional (o robô Mirage tem uma das sacadas mais geniais da franquia com uma única fala) e cria bons personagens. Ainda que Elena seja um tanto quanto genérica em seu tratamento, principalmente no início, é uma personagem agradável. Enquanto isso, torcemos naturalmente por Noah, um personagem com coração.
Muito disso surge, também, por conta das boas atuações do elenco. Ainda que os robôs continuem com aquele ar magnânimo que cansa um bocado, com dublagens que afastam um pouco o público, Transformers: O Despertar das Feras acerta com Ramos e Fishback. Eles possuem química na tela e sabem como criar seus personagens. Ramos é mais físico, coloca força nas cenas de ação, enquanto Fishback sabe como brincar com o absurdo da situação.
Só o final que parece uma eterna lembrança do que Transformers sempre foi. Acaba se prolongando demais, exagerando no tom, e criando algo que pode afastar uma parte do público que estava gostando da história. É um trecho que não parece saído da mente de Caple Jr., mas de Lorenzo di Bonaventura, o produtor que comanda a saga desde sempre. Uma pena, mas não estraga a experiência -- que é uma das principais surpresas do cinema em 2023.
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